terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Desafio

Vamos fazer um exercício de "dizeção"!
Têm a letra traduzida lá em baixo, e aqui em cima a música.
O que quero que façam é, clicam no play, e vão lendo a letra, com algumas alterações e um português meio desleixado, porque não estava com muita paciência.
Não precisam de gravar nem nada. É só para terem um prazer momentâneo.

E pronto, boa leitura.
 
 

Ainda não é tempo de mudar, relaxa, vai com calma
Ainda és jovem, isso é tua culpa, há tanto para aprenderes
Encontra uma rapariga, fica assim, se quiseres, podes casar
Olha para mim, eu estou velho, mas feliz

Eu já fui como tu e sei que não é fácil
Ficar calmo quando vês alguma coisa acontecer
Mas vai com calma, pensa muito, pense em tudo que tens
Porque tu ainda cá estarás amanhã, mas os teus sonhos vão

Como posso tentar explicar? Se quando eu o faço ele se afasta
É sempre a mesma velha história
A partir do momento em que eu pude falar, fui obrigado a ouvir
Agora há um caminho, e eu sei que eu tenho que ir embora
Eu sei que eu tenho que partir

Ainda não é tempo de mudar, senta-te, vai devagar
Ainda és jovem, isso é tua culpa, ainda há tanto para viveres
Encontre uma rapariga, fica assim, se quiseres, podes casar
Olha para mim, eu estou velho, mas feliz

Sempre que eu chorei, guardando todas as coisas que eu sabia dentro
É difícil, mas é mais difícil ignorá-lo
Se eles estivessem certos, eu concordaria, mas é que eles não me conhecem
Agora há um caminho, e eu sei que eu tenho que ir embora
Eu sei que eu tenho que partir.

Diamo-te

II

 

"Como é que te chamas?"
"Don't know."
"Não falas português?"
"Don't know."
O rapaz, com cabelo castanho claro, magro, falava um inglês com sotaque (russo, talvez?) tinha chegado de táxi a casa de Diana.
"Como é que vieste aqui parar?"
Diana não se esforçava muito por se fazer entender. Ainda não o tinha deixado entrar em casa.
"On computer. GPS sign to place where box was."
Era mais difícil compreender do que fazer-se compreender.
"And adress here."
"Encontraste a minha morada numa caixa?"
O russo parecia compreender e acenou que sim.
"Que estava na Internet?"
Acenou mais uma vez.
Diana ficou espantada. Olhou para a frente, com a mão a tapar-lhe a boca. Olhou  russo. 
"Entra."
Ele entrou.
"Queres chá?"
Ele não respondeu.
Ela foi buscar um lençol e uma almofada.
"Podes ficar aqui."
Largou-os no sofá.
"No"
"Como?"
O russo aproximou-se da mesa. Havia uma câmara fotográfica lá. Apontou para a câmara.
"Can I?"
"Sim, podes."
Pegou na câmara. Fez zoom in, zoom out, focou, desfocou, apontou para a rapariga. Disparou. Sorriu.
Diana olhou-o. Transformou-o em letras. Sorriu.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

2011

Como a passagem de ano está a chegar, e nesta altura a malta começa a pensar nos desejos para as passas, vou-vos contar uma história.


O meu pai estava-me a falar da reunião da entrega de notas e da conversa que tinha estado a ter com a minha directora de turma (que é super cómica). E dizia ele, "O mais importante são os sonhos...", referindo-se ao meu desejo de ser actor. E então eu disse-lhe o que penso sobre isso.

Os sonhos são intangíveis, daí chamarem-se sonhos; Aquilo que pode ser realizado, é um objectivo. E ser actor, é um objectivo para mim.

Visto isto, o meu pai fica com os olhos muito abertos a olhar para mim, levanta a mão, com a palma aberta e diz: "Hi five! Ma men! Eu também penso isso, eu também penso isso. Muito bem!"

E pronto. É isto. eheh
Boa noite, e bons sonhos!

domingo, 26 de dezembro de 2010

Moriá

 


Subimos a encosta. Estava frio. O meu pai agarrava-me no braço numa mistura de "segue-me filho" com um "vem comigo".
"Para onde vamos?"
Viajávamos há três dias, já tinha feito esta pergunta mais vezes, e a resposta era sempre a mesma.
"Tenho de te mostrar uma coisa."
"O quê?"
"É... É surpresa."
O silêncio manteve-se enquanto subíamos a estrada de terra batida. O céu estava cinzento e nebuloso, ao fundo, mesmo por cima do monte havia uma espécie de janela vertical formada pelas nuvens. Sei que ela lá estava porque a luz do sol passava por lá e fazia uma espécie de holofote para o topo do monte.
"É para lá que vamos?"
"Sim."
Eventualmente, nesse dia, chegámos ao cume. Aí o meu pai olhou para o céu.
"Chegámos. Que queres que faça agora?"
Acenou com a cabeça.
"Com quem estás a falar?"
O meu pai olhou-me com uns olhos doentios, húmidos. Depois afastou-se um pouco, baixou-se e apanhou uma pedra. Agarrou-a e olhou-a por instantes. Brincou um bocado com ela. Levantou-se de costas para mim. Soltou o braço com que agarrava a pedra, como se perdesse a força, deixando-o cair. Olhou para cima. Virou-se para mim.
Houve um silêncio. E então, o meu pai gritou.
"Sim, eu Te obedeço. Sim, eu Te adoro."
"Pai?"
"Perdoa-me filho."
Não, não a atirou. Avançou contra mim com a pedra na mão, empunhando-a bem no alto enquanto gritava.

Sim, eu te adoro.



http://pt.wikipedia.org/wiki/Abra%C3%A3o#Deus_prova_a_f.C3.A9_de_Abra.C3.A3o

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Vou-lhes falar de mim. Só um pouco.

Permitam-me que me apresente por tópicos, para que me conheçam bem.
Nome: Guilherme Machado Carvalho de Figueiredo Gomes
Data de Nascimento: 01/05/1993
Idade actual: 17 anos
Naturalidade: Viseu, Portugal.
Habilitações: Frequenta o 12º ano no curso de Ciências e Tecnologias.
Ambições: Ambiciona ser actor profissional.
Comida favorita: Lasanha. Hmmm.... E ultimamente saladas.
Estado civil: Solteiramente feliz.

E isto porquê?
Sinceramente, porque me apeteceu, até porque nem vai ser relevante para o que vou escrever. Assim ficam a saber mais sobre mim! eheh

Vou escrever, também como reflexão sobre o post anterior, sobre o que faço da vida neste momento.
Bom. Ao longo da minha carreira vital (portanto, vida), que ainda é curta, tenho feito algumas coisas de que me orgulho. E tenho feito muitas coisas no teatro, e relacionadas com essa área que, mais ou menos, tem alguma visibilidade. E venho-vos falar dos exageros como espectador. O espectador é, muitas vezes, deixado levar pelo êxtase do actor, e eu posso falar por experiência própria. Não que tenha feito isso como espectador, mas porque já assisti a isso como actor. E já me chamaram genial, inigualável. Pois... Meus caros, isso está errado. Aliás, acho negativo que digam coisas desse género a uma pessoa que está em aprendizagem, como eu. Agradeço, e gosto muito de ouvir, mas atenção. Atenção especial a quem o dizem! O que nos leva a outro problema, que é o facto das pessoas quererem ser agradáveis no momento, e dizerem coisas bonitas porque parece bem. Mas há muito boa gente que quer seguir teatro, e a meu ver não deve, e recebe boas críticas (falsas). Isso só é negativo. Mas já estou a divagar. No outro dia estava no carro e a pensar (sim, eu penso muito no carro). Pensava eu: quem fica na História não é quem executa, mas quem cria. Não é o construtor civil que fica na história da Torre Eiffel, mas o seu arquitecto. O mesmo se passa com o Teatro e Cinema. E depois pensei, e se eu já fiz qualquer coisa que já inscreveu o meu nome na história mas que ainda não é valorizado. E se eu já estou na história de alguma coisa, e vou ser recordado mais tarde por isso? Mas assim, estamos todos na História. Por isso tenho de mudar uma coisa no meu raciocínio do post anterior. Sim, eu quero ser uma lenda, mas para isso tenho de ser conhecido. Tenho de ser... Famoso? Porque é preciso que as pessoas conheçam o nosso trabalho, para que passem a informação para outros e assim sucessivamente.
Por isso é que comecei a escrever. Criar.
Mas, actores, não se assustem. Antigamente, o actor não podia ficar na história porque não havia maneira de marcar a sua presença, a não ser por críticas ou comentários que outros escrevessem. Mas agora temos o vídeo.
E já estou a deixar de ser coerente.
Dizem que não há bons ou maus papeis, há bons ou maus actores. Cá para mim, não sei não...

Deixo-vos um pedido, comentem com as vossas teorias sobre a questão (ou questões) tratada(s) neste post.

Beijinhos e abraços!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Ponto

Bem. Mal. Mau. Pecado. Inferno. Morte. Vida. Minha. Meu. Meus amigos,
Escrevo sobre a vida real, desta vez. Toda a gente pensa/medita de vez em quando. Uns chegam a conclusões engraçadas e com um fundo de verdade, outros nem por isso. Mas é sempre bom que se pense. É sempre bom ocupar a cabeça com alguma coisa, é sempre bom usá-la para mais que segurar o chapéu.
E eu estive a meditar, porque (bem, vou ser sincero) tenho um sonho que, apesar de ser comum, poucos conseguem, e eu acho que descobri como conseguir.
No outro dia disse a uma amiga "Eu não quero ser famoso. Quero ser uma lenda." e esse é o meu sonho, ficar na história.
E para isso, temos de ser nós. Sim, boa. Ser imprevisivel. essa é a maior qualidade de alguém. ser original, deixar sair naturalmente mesmo aquilo que não achamos certo, mesmo o que nos poderá soar errado. Mesmo tudo.
Temos de criar uma marca. Um carimbo, para marcarmos o livro da História.

Por isso, e tendo o que escrevi em conta; Amor, vem, se tiveres que vir, ou então não venhas de todo.


A partir de agora o Guilherme vai ser Guilherme.

 
Volto a meter o vídeo, que desta vez tem banda sonora portuguesa. Agora chamo a atenção para a cara da bailarina, reparem.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Do Céu Caiu Uma Estrela

Peço desculpa, mas acho que vão gostar. Este post é gigantesco, mas vejam. Vejam, porque vale a pena. E esta edição está óptima!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Diamo-te

Capítulo I

O que é a vida sem amor?
O que é o Homem sem vida?

O que é o amor?

O café arrefecia na mesa. Estava calor, e o café fora servido num copo com gelo. Era assim que gostava de escrever no Verão, ao ar livre, com a inspiração a vir com o vento.
Diana, era jovem, não teria mais que vinte anos. Era escritora. Era discreta. Tinha os olhos cor de avelã, e usava uns óculos de massa  com poucas dioptrias. Era uma lutadora.
Na mesa de metal branca, o copo de café com gelo, contemplava uma cordilheira branca. Estava calor, mas a cordilheira mantinha-se branca. Diana estava dentro de casa a acabar de levantar a mesa. Tinha mais dificuldade em levantar a mesa, que em escrever um romance. Ela movimentava-se numa cadeira de rodas, tinha caído no poço da casa,, em que mora agora, há alguns anos e ficara com uma lesão grave na medula. Ganhou mais tempo para escrever, mas perdeu o que mais amava.
O telefone tocou.
"Sim?"
"Diana?"
"Sim."
"Olá, fala a Ana."
"Ah. Ana.."
"Então, tudo bem?"
"Sim."
"Olha, estou a ligar para saber como vai o novo romance."
"Está a correr bem."
Ainda não tinha pensado bem no que ia escrever, mas não faz mal, de vez em quando, mentir à editora.
"Óptimo! Então no dia 30 estará pronto?"
"Eh... Que dia é hoje?"
"Quinze."
Diana fez uma pausa. O gato estava em cima da mesa e a jarra das flores em eminência de queda.
"Sim, sim! Estará pronto." 
A resposta foi rápida. Nem se apercebera bem do que tinha aceite.
"Boa! Depois volto a ligar, sim?"
"Sim."
"Vá, beij..."
Diana teve de desligar o telefone. Mais um minuto longe e a jarra deixava de ser jarra para ser um aglomerado de cacos. Enxotou o felino da mesa, e foi para o alpendre, onde o café gelado a esperava. No colo levava um caderno e uma caneta. Encostou-se à mesa, pegou no material de escrita e depositou-o ao lado do copo, agarrou-o e cheirou o café. Respirou fundo, com os olhos fechados. Depois, parou e olhou para a montanha. Sempre achou engraçada esta visão. Parecia estar à mesma altura do pico mais alto, porque não precisava de olhar para cima para o ver, mas lá havia neve, aqui não.
Passava a maior parte das tardes assim. A olhar. Gostava de poder correr aquilo tudo. Passear. Mas a montanha não tem acesso a deficientes. Não tem de ter. O romance, parecia cada vez mais um problema. Não escrevera nada a tarde toda.
Faltava-lhe sempre alguma coisa.
A casa dava para uma estrada pouco frequentada, no cimo de um monte. Dava para ver a cidade mais próxima lá em baixo.
Diana respirou fundo. Era triste. Conduziu-se para dentro de casa. Deixou o caderno na mesa. Atirou a caneta para fora do alpendre. Fazia-o sempre, na esperança de que um dia as ia conseguir ir buscar.
Estava demasiado entediada para fazer o que quer que tivesse para fazer. Desligou as luzes, foi-se deitar.
Demorou. Demorava sempre, mas quando se encontrou na cama, não foi difícil adormecer. Talvez nos sonhos lhe viesse a inspiração.
Na estrada, ao longe, viam-se um par de luzes redondas, amareladas e pequenas. Aproximavam-se. Era um carro. O barulho do motor estava cada vez mais próximo. E, à porta de casa, parou.


Vão perceber o título mais tarde!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Get

O café arrefecia na mesa. Estava calor, e o café fora servido num copo com gelo. Era assim que gostava de escrever no Verão, ao ar livre, com a inspiração a vir com o vento.
Diana, era jovem, não teria mais que vinte anos. Era escritora. Era discreta. Tinha os olhos cor de avelã, e usava uns óculos de massa  com poucas dioptrias. Era uma lutadora.
Na mesa de metal branca, o copo com o café e o gelo, contemplava uma cordilheira branca. Estava calor, mas a cordilheira mantinha-se branca. Diana estava dentro de casa a acabar de levantar a mesa. Tinha mais dificuldade em levantar a mesa, que em escrever um romance. Ela movimentava-se numa cadeira de rodas, tinha caído no poço da casa, em que mora agora, e ficara com uma lesão grave na medula. Ganhou mais tempo para escrever, mas perdeu o que mais amava.


(Epá, depois acabo, quando me der na cabeça, que agora estou cansado e não me parece que a "Diana" tenha grande futuro na história. Desculpem. Entretanto ouçam um pouco de música, e pensem nas vidas dos outros.)

 

Já agora, e se alguém lê isto, comentem com uma palavra, como tema, para eu escrever qualquer coisa.
Vá lá, testem-me! ;)

Vou acabar este post, num novo! Lembrei-me de um bom título, bem lamechas! xD

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Bailarina


Firme.
Forte.
Feminina.

A pose da bailarina é religiosa. Não pode haver falhas.

Respira.

Isso...

Era uma sala pequena, com janelas grandes. As paredes eram brancas, excepto uma que estava forrada com espelhos. Era nessa parede que se encontrava a porta, também ela espelhada.
Ivona era russa. Tinha vindo para Nova Iorque à procura de um futuro, mas não encontrou mais que o presente. Ela dava aulas nessa pequena sala, a que chamava studiya. Tinha dez alunas.

Era Março. Ivona ia para o estúdio pelo mesmo caminho de sempre. Parou na loja de queques do costume, mesmo ao lado da entrada do zoológico de Nova Iorque, no Central Park. Ela adorava o Central Park. Depois com o queque cor-de-rosa numa mão e o galão da Starbucks na outra sentava-se cerca de vinte minutos a ler num relvado enorme, onde àquela hora num dia de semana, só se encontravam turistas. A cidade estava viva, apesar do dia cinzento. O que mais admirava em Nova Iorque era a cacofonia de sons, e a possibilidade que ela nos dá para escolhermos o que ouvir. Ouviam-se crianças a rir, crianças a chorar, discussões de casais, carros da polícia, dos bombeiros, ambulâncias, buzinas por causa do transito caótico, tudo. Tudo, até silêncio, que era a preferência de Ivona à hora em que se sentava a ler no relvado monumental do Central Park.
Eventualmente, o queque acaba, e o galão também. Ivona levanta-se e continua o caminho até chegar ao studiya. Ainda tinha tempo até a aluna da terça-feira de manhã chegar, por isso ia com calma. Quando caminhava, Ivona, que era magra, tinha cabelo escuro, liso, apanhado, andava com as mãos a balançar, e aproveitava para ir aquecendo as articulações e os músculos. Não se importava de aquecer no caminho, ninguém reparava. Essa é a magia que todas as grandes cidades, mesmo as mais pequenas entre elas, têm. Somos invisíveis. E é bom.
Mas a bailarina, que sonhava pertencer à Companhia Nacional de Ballet Russo, distraía-se com alguma facilidade. Via nas pessoas danças. Era como se cada um dançasse um género, inconscientemente. E criava coreografias, criava espectáculos baseados na gente que não é nada de Nova Iorque.
(Uma pessoa é menos importante em Nova Iorque, que numa aldeia do interior de Portugal) 
Poderiam pensar que sim, mas não. Essa abstracção da realidade, esse ver dança em todo o lado, não era positivo. E Ivona estava prestes a descobri-lo.

Firmeza.
Força.
Concentração.

As ambulâncias ouvem-se um pouco por toda a Nova Iorque. Tanto que as pessoas já nem se preocupavam quando ouviam uma passar. Não ouviam. Não ouvia. Não ou via. Ivona, não ouviu, nem viu, a ambulância aproximar-se. Estava demasiado entretida a ver as pessoas dançar.

Con-centra-ção.

A ambulância bateu de esquina em Ivona, fazendo-a levantar voo. Bateu-lhe um bocado abaixo da nádega esquerda, e a bailarina fez um último loop, desajeitado. Rodou sobre si mesma, caindo com a parte superior das costas e o pescoço no cimento do passeio Nova Iorquino. O cabelo apanhado, soltou-se. A elegância do andar perdeu-se. A "pérola", de Steinbeck voou da mala castanha de couro. Na cidade-oceano, ninguém deixou de fazer o que fazia. A cacofonia de sons continuou. O relvado manteve-se no Central Park.
As únicas pessoas naquela cidade que sentiram a falta da bailarina foram as alunas, e mesmo essas acabaram por esquecer. Naquela terça-feira, não foi a aluna que chegou atrasada, foi a professora que deixou de ir. O studiya ficara órfão.

São poucos os princípios que uma bailarina deve ter em conta:
Ser firme.
Ser forte.
Ser bela.
Ser inteligente.

Concentração e rigor.



Uma pessoa é mais importante numa aldeia do Centro de Portugal que no resto do Mundo.
Uma pessoa faz mais falta numa aldeia do Centro de Portugal que no resto do Mundo.


Perfeição.
Beleza.

Elegância.





P.S.: Faltarão algumas ideias
quanto à minha ideia do que
a bailarina ideal é,
mas fica uma última: deve ser 
perfeita.
Curiosidade: Steinbeck, morreu
em Nova Iorque.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Conversa de Toldos



Saía do Teatro Viriato. Chuviscava. Guilherme acelerou o passo, porque ainda tinha de jantar e já eram quase nove horas. Despediu-se dos últimos sobreviventes do PANOS'11 e correu para a Rua Direita. A passada larga não era indiferente às (poucas) pessoas que passavam, não porque cativasse, mas porque era a única passada larga que não a delas. Guilherme enrolou o cachecol para se proteger da chuva, não tinha frio. Mas, de repente, começa a chover. E chove muito. Muitíssimo, íssimo, íssimo... Então a passada larga passou a uma passada ainda mais larga, e depois a uma corrida. Mas era escusado. Não valia a pena fugir, era mais produtivo de se escondesse. Então, Guilherme, que é inteligente e bonito, resguarda-se debaixo do toldo de uma loja. Mas olhava para o relógio e via os minutos a passar e o tempo a apertar. Tinha de fazer avanços. (Neste momento a história, que ainda não chegou à parte cómica, é uma seca, porque também não estou a depositar muito nela, não é?)
Guilherme, ia então de toldo em toldo, fazendo investidas corajosas e decididas contra a chuva, e corridas extremamente engraçadas. Até que, (e esta é a parte engraçada) encontra um outro cavalheiro na mesma situação. O cavalheiro, que era visivelmente mais velho que Guilherme, apresentava-se de casaco meio fechado, tinha cabelo curto e castanho.
"Isto é que vai aqui uma chuvada, não é verdade?"
"Opá, é verdade. Aqui o São Pedro não está muito bem disposto!"
Pois é. Guilherme é uma pessoa muito simpática e por isso decidiu, já que iam ser companheiros de luta durante algum tempo, meter conversa com o indivíduo.
"Olhe, sabe, eu sou anti-chapéu."
"Eu também!"
"Tenho camisolas da quechua, e isso, mas não gosto..."
(Não entendo porque é que as pessoas gostam de falar do que têm em casa, quando não o têm ali!
"... ainda há uns tempos ofereci um casaco à minha filhota. Tem dez anitos."
(pois, é muito nova para mim...)
"Ah! Isso, isso é bom!"
"É."
"E dá jeito!"
"Pois dá. Mas eu tenho tantos impremiáveis, e não me lembrei de trazer um, já viu?"
"Pois é..."
"Da quechua tenho é uma tenda, assim com (epá, não me lembro das dimensões mas ele disse que era grande, e mostrou com as mãos)... Tem três quartos, um hall..."
"Epá, eu gosto muito de campismo!"
"Sim, sem dúvida, não há melhor."
"Às vezes dizem-se "vamos para um hotel", e eu fico (faz cara esquisita) para quê?"

E ficaram assim durante algum tempo, porque o Guilherme entretanto achou que estaria na hora de ir embora, e quando o homem ia começar a divagar sobre mais alguma coisa...
"Olhe, desculpe, mas vou aproveitar que está a chover menos e vou avançar para o próximo toldo!"
"Sim, sim, vá lá!"
"Gosto em conhecê-lo!"
"Igualmente."

E continuou correndo até casa.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Os A(c)tores

1 - Os actores têm máscaras. Nunca acredites no que um actor diz ou parece, mesmo na vida real.
2 - Não ames um actor, não é digno de um amor apenas.
3 - Critica-o.
4 - O que distingue um actor profissional de um amador, é que um deles é como uma prostituta.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Natal

A vida só vale a pena se lhe dermos um significado.


Viseu acordava envolto num manto branco. Tinha nevado durante a noite e estava frio. Joaquim saiu de casa bem cedo, como já era hábito seu. O seu filho, Martim, ficara em casa, como já era hábito seu.
Joaquim vagueava com um passo acelerado como se tivesse um destino, mas sabia que não o havia. Enquanto caminhava, com as mãos nos bolsos, o pescoço aconchegado com um cachecol castanho velho, ia limpando as lágrimas que lhe escorriam e arrefeciam na cara com o ombro. Tinha a barba por fazer.
Martim era pequeno, tinha 6 anos. Os seus cabelos louros condiziam com os seus olhos de um azul claríssimo. A sua avó, que também vivia na casa, dizia que ele era parecido com a mãe. Ele não sabia, porque nunca a conhecera.
"O pai?"
A avó assustou-se com a pergunta do neto. Não estava à espera de o ouvir tão cedo.
"Então, já estás de pé?"
"Sim. Estava frio, já não tenho sono."
"Oh, pequenino... Anda cá que a avó serve-te um copinho de leite quente."
A casa era velha. A cozinha era mais fria que qualquer outro compartimento, mas o pequeno Martim levava uma manta atrás e embrulhava-se em cima do banco.
"O pai?"
"O pai? Ele foi à rua..."
A avó falava-lhe enquanto segurava na chaleira onde aquecera o leite.
"À rua?"
"Sim, disse que ia falar com o Pai Natal, já lhe escreveste a carta?"
"Sim."
"E meteste no correio?"
"Não, dei ao senhor carteiro."
"Deste? E o que é que pediste?"
"Ao senhor?"
"Não, ao Pai Natal?"
Começou a servir o neto. O leite tinha natas. Ninguém gosta de natas. A avó tirou-lhas com uma colher, mas não as conseguiu eliminar na totalidade.
Joaquim chegara ao fim do caminho. Estava no meio do Rossio. Olhou para cima. Sentiu as gotas a baterem-lhe na cara suavemente.
"Não pedi nada."
"Nada?"
"Sim. Não pedi prenda nenhuma."
"Mas não pediste mesmo nada?"
"Pedi que me tirasse a doença."
Tinha o cabelo despenteado, e a brisa que se fazia sentir levantava-o na parte da frente. A praça era cruzada por gente, constantemente cruzada por gente alheia a tudo e todos.
"Oh querido.."
A avó abraçou-o.
"E o que é que o pai foi falar com o Pai Natal?"
"Foi ajudá-lo a escolher uma prenda para ti!"
A avó sorriu, mas Martim olhou-a sem expressão.
"O que foi?"
"Porquê uma prenda? Eu não pedi uma prenda."
"Porque..."
Imobilizado no meio da calçada, olhou em volta. E pensou. Não tinha deixado nada na vida. Teve um filho, com uma mulher moribunda, e agora estava também ele e o filho a morrer ao poucos. 
"Achas que o Pai Natal não me tira a doença?"
Tirou as mãos dos bolsos, na direita empunhava um revólver. Encostou-o ao queixo.
A avó soltou um suspiro trémulo.
"Não."
As pombas voaram dos ramos e dos fio eléctricos. A gente alheia, estava agora mais próxima que nunca.






Feliz Natal.
Di-lo a toda a gente alheia.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A partir de agora isto é um amor ficcional

 )Sou egoísta:(

O Manekas pediu-me para escrever sobre como acho que funciono a nível das paixões.
Eu poderia responder a isso numa só palavra: 
Mal

Mas como ele é digno de algo mais, vou aprofundar.

No que toca ao amor, fui calado (e bem) no outro dia, pois amo a minha família, e isso é for sure.
Agora, nas paixões...

Eu sou actor, ou aspirante a, por isso a minha grande paixão (por mais estúpido que pareça) é o teatro, a representação.
É..

Mas, ocasionalmente, apaixono-me.
Apaixono-me e desapaixono-me com alguma facilidade,
mas com alguma especificidade. 
Não pensem que me apaixono por qualquer uma.
Não.

Apaixono-me por uma que me chama a atenção.
Por pena minha, apaixono-me muito pela aparência.

Portanto, a minha paixão
não é constante.
Mas acho que deve ser apenas nesta idade.
E também sou muito brincalhão,
poderá não parecer às vezes mas sou,
e muito pouco afectivo.

Gosto de manter uma distância de segurança.

Em boa verdade, acho que tenho apenas duas paixões:

A representação
E eu.

(e mesmo assim, não tenho a certeza quanto à segunda)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Clarifiquemos.


O meu amor é estúpido como um penico cor-de-rosa
É uma paixão que, para além de ser platónica,
É internáutica.




Para que não haja falsas atribuições, a moça é da minha idade.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dia 1

Já comecei a pensar menos em ti!
Estou disposto a fazê-lo, 
Até porque não
Vou a lado
nenhum
assim.


E espero que vejas isto, comentes, e que sejas sincera.

(até a escrever já estou a deixar de pensar. Espero eu.)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

E há coisas que estão, pura e simplesmente, fora do nosso alcance... 
O primeiro passo é assumir. O segundo deverá ser aceitar, não?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E se Platão não tivesse existido, será que haveriam amores platónicos na mesma?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Viseu, 26 de Novembro de 1932

O rapaz subia a rua direita aos saltos. Corria como quem dança, rodopiando sobre si mesmo. Estava feliz.
Estávamos no outono, e começava a ficar frio. Ele dirigia-se para o Rossio. E basicamente é isso porque me dói a cabeça, desculpem. Depois termino.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Vá!

"Ela já te disse que sim!"
"Não, ela disse que talvez."
"Não, desculpa, se ela disse aquilo, então disse que sim."
"Não disse nada que sim, Rafa!"
"Está bem, Guilhas, tu é que sabes..."
(Pausa)
"Também não quero estar a ser chato. Sei admitir quando perco, e ela não gosta mim."
"Oh! Tu até agora não perdeste nada, só ganhaste. E ela gosta de ti."
"Não me parece."
"Tu lá sabes."
"Rafa, ela dá mais a entender que não gosta, do que que gosta?"
"Hã?"
"Oh! Tu não percebes nada disto!"
"Não! Tu falas, falas e não te vejo a fazer nada. Pões-te a dizer para e fazer isto e aquilo mas não te vejo a mexer."
"É diferente, Rafa."
"Pois é. Tu estás em melhor posição."
"Não. Tu estavas em melhor posição, oportunidades não te faltaram."
"Olha Guilherme. Lá por achares que perdeste, não quer dizer que desistas."
"Não é bem assim..."
"É, é. Imagina que te corre mal um teste, tiras nega, desistes ou tentar subir a nota?"
"Estás a compará-la à escola?"
"Podia, mas não estou. Estou a compará-la a tudo." (tempo) "E tu tiveste a oportunidade ontem!"
"Qual oportunidade? Achas que vou ter com ela (e com as amigas) e dizer, olha, sou o Guilherme... Gostava de te conhecer melhor?!"
"E não foi isso que me disseste?"
"Olha, Rafa, estou farto desta conversa de merda!"
(Rafa ri-se)
"Andas a ficar muito asneirento!"
"Oh!"
"Eh-eh. Está bem... Olha, Guilherme, acho que devias arriscar. Ela já te deu uma resposta e tudo!"
"Rafa? Cala-te!"
"Sabes o que é que vais fazer? Vais chegar a casa, pegar no rato e voltas ao site e combinas lá aquilo com ela."
(Chegámos ao cruzamento, e portanto, ao final da viagem. Agora cada um ia para seu lado.)
"Eu acho que a vou é deixar em paz. Ela naturalmente gosta de outra pessoa!"

(Rafa acena com a cabeça)

"Tu lá sabes!"

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tenho a impressão...

(ok.. só mais um)

Parece-me que o ser humano é injusto
Quando tem alguma coisa garantida
Perde o interesse.

E acho que está mal.
Tenho pena.

E é só.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ufa!

Ufa!

Estava a ver que deprimia!
Mas não tenham ideias erradas, que não houve qualquer evolução
Quanto à moça!
Fico triste, mas pronto.

Bem, 
Ufa porquê?
Porque o Graeme ligou.
Ora Graeme ligar = PANOS
Assim sendo
PANOS + tempo = Menos tempo a pensar na moça.

(refiro-me sempre a ela como moça, se usar rapariga é outra pessoa. Acho que pode facilitar)
Ainda não tive muito tempo
Visto que foi fim-de-semana prolongado.
Mas ainda tentei pela net
como podia.

Talvez uma abordagem ao vivo
no Liceu, não acham?

Sim.
Mas agora estou contente/feliz
porque já tenho com que ocupar a cabeça.

(obrigado Graeme)

E o meu problema é diferente 
(já o diagnostiquei)
E é um ponto fraco meu.

(Bolas!)

E foi isto.
Agora vou-me embora.

Inté!


(Provavelmente, quando voltar vou regressar à ficção.)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Agora a sério

Bom, desta vez vou tentar ser objectivo e directo.

Falemos de amor (para variar um bocadinho! xD)

O que se passa é o seguinte,
Não me interessa quem lê isto, não me interessa se gostam ou não gostam.
Só podem dar uma sugestão no final, mesmo que em anónimo, sobre este ou qualquer outro assunto.

(E com isto já me perdi.)

Mas continuando.
O que se passa é que eu não sei.

Aliás... Sei!
Sei que gosto de uma moça (naturalmente). 
E isso deixa-me desconfortável.
Não que eu não goste de gostar de moças, que gosto (e muito), mas porque não me consigo concentrar naquilo que queria. 

 O amor é para aqueles que gostam de sofrer. Totalmente. Não é?
Porque se repararem, antes da conquista vem o sofrimento.
Para ti, apaixonado(a), isto é para ti que lês isto (coitados, não devem ter que fazer), nunca passaste uma noite em branco a pensar nela (ou nele (ou em mim!!xD))? Nunca não pensaste em mais nada? Nunca desejaste ter tudo para lhe dar?
Já, naturalmente.
(quer dizer, o último não sei)

Mas o que eu quero dizer é isto:
Eu gosto dela, mas não sou estúpido.
(ou sou muito estúpido)
E já percebi que ela não gosta de mim.
Achava que sim, mas não.
É... Sou (muito) estúpido.
Cromo!


(eu estou a escrever isto à medida que me vou lembrando, por isso se estiverem confusos, vão para a parte final... Ou habituem-se!)

E eu não sei o que fazer.
Porque já senti tudo o que escrevi acima por esta pessoa. 
(Bolas!)
E é chato, faz uma impressão no peito. 
E isto não é figurativo, faz mesmo, não sei se já o sentiram também.
Parece que o coração acelera e abranda ao mesmo tempo.

Mas continuando, senhores e senhoras doutores(as) psicólogos(as)...
Eu tenho a noção que sou feio. Sim. Faço umas caras esquisitas, tenho o cabelo sempre por pentear, ou mal penteado. SIM. E posso parecer chato (e sê-lo mesmo).
Mas... Oh boa.. mas nada.
(isto também confunde, né?)

"Amo-te" é uma palavra muito forte, que nunca disse a ninguém. Mas acho que era capaz de dizer a menina em questão.
Não vos digo quem é a moça, para proteger a sua privacidade.
(e não me comprometer)

E pronto...
É isto.

Espero que tenham gostado deste desabafo.
Agora vou ler o que escrevi... 

Entretanto, se quiserem, podem ajudar aqui o pobre coitado com alguns comentários sobre como fazer pão-de-ló, ou assim. Ou mesmo sobre o que escrevi.
Agora vou mudar só um bocadinho as regras,
Porque a minha dúvida é se vale a pena lutar, se fique quieto, ou até se estou melhor sozinho..
(muito francamente, acho que a última é a mais verdadeira.)

E as regras.
Seleccionar 
"Sim Guilhas Gostei" significa "Vai-te a ela Guilhas, porque não? Quem sabe não só és estúpido, como também és burro e estás enganado!"
"Não Guilhas Não Gostei" significa "Sim, Guilhas, acho melhor ficares quietinho, porque não vais a lado nenhum!"
Se não for isto que me querem dizer, podem sempre comentar (até em anónimo).

Obrigado por lerem,
GG

Chatice!

Havia um menino (ele vivia numa sala escura) que viu um feixe de luz a sair de uma porta. Acho que deveria encontrar detrás daquela porta algo maravilhoso. Contemplou o feixe por uns momentos, e depois, receosamente decidiu avançar. Descobrir o lado de lá. Ver se vale a pena. Avançou. Achou que ia encontrar o sol. Que ia encontrar árvores, flores. Que ia encontrar a Natureza. Que a ia encontrar. Que ia poder correr livremente. Que ia finalmente conhecer o que achava impossível de alcançar. E então abriu um pouco mais a porta. E o feixe que parecia forte, belo, intenso, não passava do reflexo que a luz que passava por uma janela translúcida a tender para o opaco fazia ao encontrar a parede cinzenta. Foi iludido. Não encontrou nada de novo, e ao fim de algum tempo, voltaram a fechar a janela.
Valeu a pena? Sim, agora não voltaria a entrar na sala. Não voltaria a ser iludido. Não voltaria a aumentar as suas esperanças.

Deixara de acreditar.
E com ele, eu também.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sinto-me apenas mais um.

Qual é o objectivo de amar uma eterna apaixonada? (O mesmo se aplica às mulheres!)
Não vale a pena, digo-vos já. Isto porquê? Porque ama, desama e passa. (muito provavelmente)
Por isso é essa a mensagem que vos quero transmitir.
Concordam? Com o quê? É que eu não percebo o que escrevi...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Livre




"Morra o Dantas, morra! (pausa) Pim!"O público, um grupo de amigos, fica boquiaberto a olhá-lo. Estavam na sala sentados num sofá, José estava de pé, em frente a eles. Não eram muitos, quatro, para ser preciso.
E um deles avança.
"José, não achas que isso pode ser um bocado violento?"
"Violento? Ninguém é obrigado a ler isto. Eu escrevo o que me apetece! Além disso ele falou mal da nossa revista primeiro."
"Sim, claro... E o que pensas fazer com ele? Vais publicar?"
"É um panfleto, Fernando."
"Pois... Mas na minha opinião devias rever o texto!"
Outro, que estava sentado ao lado de Fernando.
"Sim, José, acho que o Fernando tem razão."
Outro ainda.
"Não tem nada. Ò Pessoa, o homem escreve o que lhe apetece!"
"Desculpa, mas eu também tenho direito a expressar a minha opinião." Respondeu Pessoa "Tu é que sabes o que fazer com isso, José! Mas não o vais relacionar com a Orpheu, pois não?"
"Não, não... É claro que as pessoas vão associar à revista, e que ela está na origem do texto..."
"Sim, mas eu não quero ter nada a ver com isso!"
"Ò Sá-Carneiro, mas qual é o problema? Tens medo do Dantas, é?" Ri.
"Vá, Eduardo, não é preciso exagerar!", advertiu Almada Negreiros.
"Só não quero que te aconteça nada..."
"Não te preocupes, Fernando."


A sala estava espessa de fumo. Eram poucos mas fumavam todos. Na sala estavam os principais colaboradores da Revista Orpheu. Tinham todos um objectivo em comum, mas opiniões diferentes. Almada Negreiros sentia que podia dizer o que quisesse, ninguém o tinha de ouvir, ninguém o tinha que julgar. Eduardo Viana concordava com Negreiros, apesar de ser mais discreto (em tudo), e tratava todos pelo último nome. Pessoa era revolucionário.... No pensamento, na vida real era muito tímido, educado (disciplinado pode ser a palavra mais certa) e por vezes podia parecer arrogante. Sá-carneiro era, basicamente, infeliz. Pouco falava, gostava mais de escrever as suas ideias que dizê-las em voz alta.
Quando os outros se foram embora, Almada Negreiros ficou sozinho em casa. A sala estava desarrumada, os cinzeiros cheios e o cheiro era quase insuportável, mas José não se preocupou em arrumar nada. Agarrou no seu "Manifesto Anti-Dantas" e sentou-se no chão da sala, sobre um tapete grande e avermelhado. Agarrou num lápis e desenhou o projecto do panfleto. No dia seguinte ia mandar copiar e então trataria da distribuição. Não seria difícil distribuir um panfleto tão polémico.
"Ainda hão-de falar muito em ti!" sussurrou, sorrindo, para o papel riscado a lápis e caneta, onde tinha escrito o manifesto.


Acordou com alguém a bater à porta. Tinha adormecido no chão da sala. Levantou-se e abriu a porta. Era a vizinha.
"Bom dia dona Amélia." A sua voz estava excessivamente grossa por ter acordado ainda agora.
"Bom dia Senhor José."
"Então, do que precisa?"
"Preciso que faça menos barulho à noite! Ontem era perto da meia-noite quando os seu amiguinhos saíram de sua casa, e fizeram, perdoe-me, mas fizeram muito barulho!"
A velhota, meia gorda irritava Almada Negreiros quando se referia aos seus colegas daquela maneira.
"Dona Amélia, não são amiguinhos, são grandes companheiros, e ilustres pessoas! E peço desculpa pelo ba..."
"Ah! Ilustres! São uma cambada de bêbedos, José! E fumam muito, isso só pode fazer mal! Cheira-se no prédio todo!"
Negreiros respira fundo.
"Sim, pois..." Esfrega os olhos " Mas se não se importa, eu tenho que fazer!"
"Muito bem, mas que não se volte a repetir!"

Almada fecha a porta, despedindo-se.
Abriu as janelas. Estava frio hoje. Debruçou-se sobre o parapeito da janela e olhou para baixo. Dava para um pátio sem interesse, mas Almada agarrou no bloco de folhas brancas e, com um lápis, começou a esboçar um desenho. Entretanto o sino da igreja, perto de sua casa, dá as horas. Eram onze. Tinha adormecido. Era tarde. Largou o bloco no chão, agarrou num casaco, penteou-se à pressa, pegou no manifesto e saiu de casa. Mal fecha a porta repara que se esqueceu de meter as chaves no bolso. Teria de pedir à chata da Amélia para lhe dar as suplentes que ela guarda. Mas, ignorando o facto de que estava preso fora de casa, avança, a correr, para a rua.
Teria de ir à tipografia que ficava na Rua Augusta. Não gostava de movimento, mas era o sítio onde lhe faziam o trabalho mais depressa e barato. Com sorte ainda encontrava Fernando Pessoa no Martinho d'Arcada.
No meio da multidão que andava na rua nessa altura, José destacava-se. Tinha o cabelo todo desalinhado, apesar de se ter penteado, e usava uma camisa com um padrão em losangos amarelos, as calças eram verde escuro.
Na tipografia disseram-lhe para passar lá por volta das quatro da tarde, o que era óptimo. Mas agora estava na hora do almoço, Pessoa estaria de certeza numa taberna ou num café algures por aqui. Experimentou o Martinho, mas Fernando não estava lá. Foi de porta em porta pelas tascas da zona, até se lembrar da Brasileira, no Chiado. Dirigiu-se para lá. Pessoa não estava na Brasileira. Na realidade estava em frente à estátua do "Chiado", completamente bêbedo, a discutir com o poeta que era conhecido pelo nome da zona onde morou grande parte da sua vida.

"Tu não és o Chiado! Tu és o António Ribeiro, malandro! O verdadeiro Chiado era muito mais útil que tu! Sabes quem foi? Sabes?" Cala-se, esperando uma resposta da estátua de bronze "Pois... Não sabes! Ele... Ele era o, o... O dono daqueles armazéns!" Aponta para os armazéns do chiadoSoluça "Tu achavas que tinhas piada, é o que é!"


Negreiros aproxima-se a passo acelerado de Pessoa.

"O que é que se passa?"
Pessoa está completamente alterado.
"José? Conheces o António?"
"Fernando, o que é que se passa?"
Pessoa começa a chorar.
"Matei-o!"
"Mataste-o? Quem?"
"O Mestre!"
"Mestre?"
"O Caeiro. Já não o vejo, acho que o matei!"
"Oh! Anda!" Agarra-o, despede-se da estátua levantando o chapéu "Já almoçaste?"
"Já..."
"O que é que comeste?"
"Comi? Eu não comi... Só bebi, José!"
José respira fundo. Nunca tinha visto o seu amigo assim.
"Aonde é que vamos?"
"Vamos para casa!"


Chegaram a casa de Fernando Pessoa. Não podiam ir para casa de Almada Negreiro, porque ele não tinha as chaves de casa, e não queria aturar a velhota. Quando bebia, Fernando ficava com sono. Por isso não demorou a adormecer. Almada aproveitou a sesta do amigo, escreveu-lhe um bilhete para o caso de acordarentretanto a dizer que tinha saído e levado as chaves de casa, ia almoçar.
O dia acabou por abrir, e a brisa já não estava tão fria. Almada esteve uma hora para almoçar e não saiu satisfeito. À saída do restaurante ainda encontrou um conhecido, e anunciou que havia novidades mais tarde.
Quando chegou a casa do Pessoa, o poeta ainda dormia, por isso recolheu o bilhete que tinha escrito e foi para a sala ler qualquer coisa. Eram duas e meia da tarde, ainda tinha tempo.
Havia umas cartas em cima de uma mesa alta no hall de entrada da casa. Estavam escritas em inglês, por isso pousou-as. Nunca gostou muito de línguas que não o português. Continuou, e foi para a sala. Pessoa tinha lá uns livros, pegou num e começou a lê-lo. Era sobre espiritismo. Pousou-o. Reparou que Pessoa tinha o cinzeiro cheio, pegou nele e lançou o lixo pela janela. Levantou-se e passeou pela sala. As paredes estavam um bocado vazias, talvez fizesse um quadro para oferecer ao Pessoa, uma pintura abstracta, ou até um retrato, mas nada vulgar. Tinha de pensar. Passou a mão pela máquina de escrever do amigo. Estava lá agarrada uma folha com um texto. Não era poesia. No topo dizia L. do D. Pensou que devia ser mais um heterónimo. Nunca tinha percebido essa história dos heterónimos. Pegou numa das folhas meias amareladasjunto máquina e tirou um lápis do bolso. Esboçou um possivel retrato de Fernando. Desenhou-o a caminhar, na rua. Não gostou do resultado final. Talvez o devesse sentar. No verso da folha desenhou Pessoa sentado, com uma caneta na mão. Em cima da mesa estava a Orpheu, e umas folhas. Não ficou convencido, mas guardou a folha, dobrada em quatro, no bolso. que estavam Nesse instante Pessoa entra pela sala a esfregar os olhos. 

"O... O que é que estás aqui a fazer?"
Estava com um hálito horrível. José ri-se.
"Olha, a salvar-te!
"Salvar-me?"
"Sim! É que o Chiado já estava a ficar aborrecido!"
"Como?"
"Nada... - Então, o que aconteceu ao Caeiro?"
"Não sei... Nunca mais o vi."
"Disseste que o mataste."
"Acho que sim."
"E estás bem?"
"Estou melhor que ele!"
Almada ri!
"Olha, esvaziei-te o cinzeiro, estava muito cheio."
"Onde é que deitaste as cinzas?"
"Pela janela."
"Ah! Não! Essa dá para a rua, José!"
"Epá, desculpa..."
"Não faz mal..." (silencio) "Ele estava muito cheio porque ontem ainda vim para cá com o Sá-Carneiro."
"Ai sim?"
"Sim.... Já imprimiste o manifesto?"
"Vou buscá-lo às quatro."
Pessoa faz uma careta.
"Tu é que sabes. O Mário esteve-me a dar uma novidade..."
"Então?"
Pessoa olha fixamente José.
"Ele vai para Paris."

(continua)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Leonardo

Quando somos crianças temos um  grupo, ao qual ensinamos coisas novas. Não sei se vos aconteceu, mas eu lembro-me de andar sempre com uma trupe atrás, e eu dizia-lhe coisas que tinha visto, coisas que me lembrava de fazer, e passávamos assim os tempos livres. Ora, na história mundial não faltam exemplos disso, especialmente na antiga Grécia.
Hoje escrevo, em particular, de um desses lideres de pequenos grupos (grupos que na linguagem corrente são de intelectuais). Um senhor chamado Leonardo.
A este ponto (se não leram o final, não se desgracem!) ainda não sabem se este Leonardo é real ou não.
Esse tal Leonardo nasceu numa terra pequena, com casas de pedra. Quando era pequeno, demonstrou ser muito inteligente e perspicaz. Esta segunda característica é, talvez, a mais importante: mais importante que um homem inteligente, é um homem perspicaz! 
E com o tempo se tornou homem. Um mestre dos sete ofícios. Fez de tudo, tudo. E por isso muitos eram os que o seguiam.
Mas havia um, Guilherme era o seu nome, e era o aprendiz de Leonardo.

--

"Como?"
"Sim, bloqueios mentais."
"E o que é isso?"
"É perderes a capacidade de pensar!"
"Como é que isso é possível?"
"Então, é fácil de imaginares. Deixas de ser criativo."
"E quando é que isso acontece?"
Leonardo sorri.
"Quando estás apaixonado, Guilherme."
Guilherme baixa a cabeça. Caminhavam sobre um caminho de terra batida, e estavam rodeados por um descampado verde. Ao longe viam-se montanhas, e aqui e ali umas árvores.
"Pois..."
"Anima-te rapaz! Já pensaste no que seria se a criança decidisse não caminhar, porque sabe que um dia vai cair? Seria um caos! Ninguém levaria uma tarefa até ao fim, e éramos todos um simples grupo de mortais infelizes. Sim, porque é a ideia da morte, que nos tira a vontade de viver."
"Não percebo..."
"Guilherme, não podes desistir se não tentares. Percebes?"
"Sim, mas como é que isso se aplica a isto?"
"Isto o quê?"
"Eh... Esqueça, não devemos estar a falar da mesma coisa."
"Estamos sim, disso tenho a certeza!"
"Não sei..."
Leonardo pára, com esta observação de Guilherme. Tinham chegado ao pé de uma árvore que oferecia uma sombra não total.
"Guilherme"
O discípulo olhou.
"Senta-te."
Obedeceu. Obedeceu e ficou a olhar o seu mestre, professor da Vida, que levantado em frente dele lhe falava.
"Temos todos um objectivo na Vida. Uns querem perceber para que serve, outros querem simplesmente vivê-la sem pensar no que estão aqui a fazer. Mas durante este percurso, que é desde o ventre à cova, passamos por vários caminhos, Guilherme, caminhos que podem ser de terra batida, como este que percorríamos agora ou podem ser de pedra calcetada, como aquele que temos na nossa aldeia. Pensa neles como .estradas largas onde circulamos, mas não sós. Estás a perceber?"
"Sim."
"Boa! Agora vamos acrescentar duas muralhas, uma de cada lado da estrada. O único caminho que tens é esse onde estás."
"Estou a ver..."
"Óptimo! Agora... E aqui é que está o cerne da questão. Agora, imagina que te aparece uma linha de fogo, de uma margem à outra, não muito larga à tua frente, tu páras?"
"Paro... Uma linha de fogo, por mais fina que seja é um perigo!"
"Não! Guilherme, esse vai ser o mais pequeno grande obstáculo com que te vais deparar. Tens de o tentar ultrapassar, não sei, tentas saltar por cima, apagar o fogo. Mas acredita, mal superes este, serás capaz de o superar outra vez, este ou outros."
"Pois, não tinha pensado nisso.."
"E depois de o superares, imagina que te aparece um cão raivoso. O que fazes?"
"Corro!"
"Corres?"
"Sim."
"Mas assim ele segue-te, e como é mais rápido, apanha-te! Podes fugir, numa primeira fase, mas depois, tens de o matar, se não quiseres que ele te mate a ti."
"Ah..."
"E mesmo assim, se fugires, esse foi um obstáculo que te seguiu durante algum tempo e te fez perder algumas coisas. Correste no caminho, e por isso não desfrutaste dele. Mas depois de o matares, serás imune a esse tipo de problemas."
"Sim..."
"E então, o que se passa?"
Leonardo senta-se junto de Guilherme.
"Eu amo uma mulher."
"Isso é normal!", ri, "E ela não te ama, não é?"
"Não sei."
"Então? Ela sabe que a amas?"
"Não sei. Eu acho que sim, e que ela me ama também..."
"Mas disseste que não sabias..."
"Leonardo, eu não sei o que saber."
"Achar. Não sei o que achar."
"Sim."
Leonardo respira fundo.
" Então não lhe disseste que a amavas..."
"Não"
"E como achas que ela pode desconfiar?"
"Já posso ter dado a entender... O Leonardo sabe, com atitudes e comentários..."
"Mas costumam falar?"
"Não directamente, mais ou menos..."
"Olha, Guilherme, estás numa situação muito estúpida!"
"Desculpe?"
"Olha, tens de ver duas coisas. Primeiro tens de ver se ela merece o teu amor, depois, se ela o merecer, tens de a convencer a amar-te a ti, se é que isso já não acontece..."
"Ah.."
"Sabes, o amora não é inato. Uma pessoa não nasce a amar outra. Apaixona-se."
"Mas isto não me afecta o pensar?"
"A criatividade?"
"Sim, como dizia há pouco..."
"A situação em que estás, sim, deixa-te atrofiado!", ri mais uma vez.
Faz-se silêncio.
"E se ela diz que não?"
"Que não o quê?"
"Que não me ama."
"Mas foi isso que eu te disse, tens de a convencer!"
"Mas e se ela diz que não está disposta a amar-me?"
"Não merece o teu amor." (pausa) "E então, vais falar-lhe?"
"Eu não a conheço."
Leonardo riu.
"Nem nunca a vais conhecer..."

Nesse dia, depois de falarem, Leonardo foi para casa. Guilherme acompanhou-o. Na altura vivia em França, no solar Clos Lucé. Era Maio. Depois do jantar, Leonardo deitou-se na cama. Morreu durante a noite. Ficou recordado como o filho da sua terra, Anchiano, em Vinci, Itália. Morreu mas foi sempre recordado como Leonardo de(da) Vinci.


Razão porque escolhi a música: Gostei bastante, primeiro, da sonoridade, e depois porque a letra se encaixa no texto, falando de desencontros. Mais nada! :)