quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sushibaby

3



Entrou pela porta, como se a casa fosse dela. A sua aparência era diferente da dos restantes. Era bonita, tinha os olhos carregados, grandes e expressivos.
A festa estava agora a começar. Os convidados, todos relativamente novos, chegavam quase simultâneamente. A música era portuguesa, e alguém grita.
"Não tens aí música boa?"
"Nã... Aqui só música muito boa!"
Os convidados riram, em geral, e o volume da música aumentou. Ela caminhava agora à descoberta. Foi até à mesa das bebidas, encheu um copo de coca-cola e sentou-se numa cadeira, relativamente isolada. Ia com ela uma amiga, que aparentava ser feliz. Animada. Tinha uma cara simpática, e divertida. Eram uma parelha divertida. Conversavam, com sorrisos esboçados na cara, e um copo de cola na mão. Os olhares passeavam pela sala, para ver quem estava. Até que entrou um rapaz.

2

O rapaz era discreto. Tinha o cabelo escuro, e os olhos pouco abertos. Estava despenteado (estava sempre), e parecia não estar presente. Ele fitou-a, ela também. Desviaram o olhar e sorriram. Conheciam-se. Ele sentiu um impulso, queria falar-lhe mas tinha receio. Também uns amigos abordaram-no, e meteram conversa. Falavam de tudo, e de nada. Em bom rigor, estavam já ligeiramente bêbedos. E nisto tudo, a rapariga. Ele olhava-a, mas ela parecia ignorar, e ao mesmo tempo parecia estar a falar dele à amiga. Havia um misto de sensações no peito do rapaz, que deixara de ouvir os amigos, para ouvir os pensamentos. A certa altura, a rapariga olha-o e levanta-se. Ela vem na direcção dele. O coração acelera. Ela chega por fim. Conhecia mais um rapaz que o acompanhava, mas o "Olá" parecia ser direccionado para o apaixonado, que lhe respondeu com um mísero "Olá". Houve silêncio. Merda! Ela sorriu, e afastou-se. Merda, merda, merda, merda.



1

Mais tarde, o rapaz estava sozinho, e ela sentou-se ao pé dele. Falaram durante um pouco. E a despedida, apesar de ser um "até já" porque não se iam realmente deixar de ver, custou.
Dias depois, na escola, e sempre, ela parecia esconder-se, ou fugir. E ele pergunta "Isso é bom, ou mau sinal?" porque a rapariga o fascina, e por isso não a quer assustar, e então surgem pensamentos do género: "Ela está a esconder-se para fugir de mim porque pensa que eu sou um tarado qualquer que a anda a seguir para todo o lado. Mas eu não quero isso. Por isso vou deixar de a ver, não? Não isso pode correr mal. Bem, então ficamos assim assim, não é?". O Campos disse, e com razão, "O sexo oposto existe para ser procurado, não para ser compreendido".



O rapaz é o Charlie Brown (no futuro, naturalmente). Mas podia muito bem ser eu.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Faltou dizer muita coisa, mas a mais importante foi que estavas muito bonita.
 Por isso, e mesmo fora do tempo faz sentido,

Estás muito bonita. Hoje e sempre que te vejo.
 E tens os olhos mais bonitos que já vi. Não pela cor, que é comum, mas pelo sentimento que transmitem, que é mágico.


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Odeapessoa

 

Não digas nada.
Era quinta-feira, se não me engano. Lembro-me que estava em casa em frente ao computador, a descobrir poemas de Fernando Pessoa, e a ler em voz alta o que me ia aparecendo no ecrã. Lembro-me, mas lembro-me mal. Sei que a certa altura, não me recordo porquê, decidi que queria criar um canal no Youtube onde ia recitar estes poemas, deste poeta. Tinha então 15 anos, estava no meu primeiro ano de liceu e, por isso, tinha mais tempo livre. Ou pelo menos achava que tinha. Escolhi um poema a dedo para abrir o canal, e peguei na câmara. Comecei a ler. Foi uma leitura simples, o poema é simples, ou pareceu-me simples, "Não digas nada". Sei que estava junto ao computador, e isso é audível no vídeo, sei que estava mais ou menos escuro, e que me doía a cabeça. Porque o fiz, já não me lembro...Mas ainda bem que o fiz. O Odeapessoa tem como objectivo o exercício dramático. Foi a maneira mais interessante e produtiva de exercitar as minhas capacidades teatrais, que na altura considerava que tinha. A descrição que fiz do canal, no canal, foi de encontro ao primeiro poema lá declamado. Sei que lá consta, e escrevo-o de memória, "Não interessa quem sou, pois quem faz o canal é Pessoa!". E é. Nesse dia da criação do canal não li apenas o "Não digas nada", quando o acabei de gravar tratei de imprimir mais uns quantos e fui para a sala, onde ainda hoje gravo os poemas, gravar de pé e relance uns três ou quatro poemas de Pessoa. Editei-os deixando o fundo preto, porque tinha medo. Tinha medo que soubessem quem eu era porque tinha vergonha. E por isso não o publicitei, deixando-o assim à descoberta dos utilizadores do Youtube. O que acontece é que quando uma coisa não é publicitada, não é dada a conhecer, ninguém a vê, porque não sabe que existe. E eu queria milagres. Milagres que não aconteceram, ou tardaram a acontecer. Ninguém via os vídeos, e eu desanimei, porque queria que as pessoas os vissem, mas não queria que soubessem que era eu. Desanimado, e sem esperanças no canal, abandonei-o. Simplesmente.




Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

 Andava desanimado com o canal. E sem vontade nem paciência para continuar. Até que recebo uma mensagem no Youtube. O título era "a gente não faz amigos, reconhece-os. (Vinícius de Moraes, tambem bom", e eu pensei "SPAM!". Mas abri, e o conteúdo mudou a minha maneira de ver o canal. Quem o enviou vou saphira11111, com quem mais tarde viria a falar mais vezes, e transcrevo-o na integra: "olá odeapessoa!
ainda existes? Já encontrei teu canal, e gosto muitíssimo. Eu estou aprendendo português, (sou alemã), e ler a poesia de Fernando Pessoa é uma das causas melhores!!! E é muito bom ouvir alguem de Portugal. Continua!!!!!!!!! Safira
". Respondi-lhe dizendo que ia continuar, por causa dela. Mas isso tardou e por isso enviei mais uma mensagem à Safira, pedindo desculpa pela demora e perguntando se queria que eu lesse algum poema em particular. Ela pediu o "Poema em linha recta". A partir daí criei uma regularidade nas declamações (um por semana), tratei de divulgar o canal, e tentei manter-me sempre no anonimato. Não por humildade, mas por cobardia. E sabem que mais? Ainda bem. Não vou estar a contar aqui todos os momentos que o Odeapessoa me proporcionou, porque foram muitos. Vou simplificar dizendo que houve momentos altos e momentos baixos, cometi erros e inovei, tentei surpreender e fui surpreendido. Aprendi. Durante a aventura a que chamo Odeapessoa evoluí, apaixonei-me, desapaixonei-me, ganhei, perdi, ri, chorei. Se me arrependo de alguma coisa, foi de não ser melhor, mas isso não me importa, porque sei que até sou bonzinho.
Espero que um dia façam um filme do Odeapessoa, porque ainda só contei o começo!

 

Querem que continue, ou isto chega?

sábado, 8 de janeiro de 2011

Olá

Na vida gosto de me dedicar a algo quando sei que posso tirar de algo algum proveito. Gosto de ter algumas garantias, ou pelo menos pseudo-garantias. Porque assim sei que vale a pena apostar porque a probabilidade de fracassar é menor. Pode não ser a filosofia de vida mais correcta, mas olha, o senhor Wilde tinha uma definição de artista com a qual não concordo, o que demonstra que não há verdades absolutas, e ainda bem. Sei que gosto de ti. Bem, não havendo essas verdades comuns a todos, acho que gosto de ti. O que é bom, quer dizer que ainda não perdi a cabeça por ti. Ainda não te amo. (ou não)
Mas, se quiseres ser querida, como eu sei que vez o blogue, deixa um comentário em anónimo, se te sentires mais segura, dizendo "sim", se vale a pena apostar, ou "não", se não sou merecedor do teu amor.

 Por favor.

E com este acto de desespero, posso concluir que te amo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Infantilidades

A cena decorre num descampado. Ao longe  estão casas, que deitam fumo das chaminés.

Gustavo - Andreia...
Andreia - Sim?
Gustavo - És tão bela...         (e tu és tão dela)
Andreia cora.
Gustavo -  E és intelectualmente interessante.
                 Tens bons gostos musicais.
                 És estranhamente encantadora.
                 Parece que saíste de um filme da Disney.
Riem-se.
                 Mas não te amo.
Andreia - Porquê?
Gustavo - Porque também és infantil.
Andreia - Não sou nada!
Gustavo - Se não és aparentas. Se aparentas é porque ou o és, ou queres ser.
Andreia olha-o estupefacta.
Andreia - Sou infantil, sim. Mas porque te amo, e tu és infantil.
Gustavo - Criticar. Que infantilidade.
Andreia - Dizer "não". Que infantil.

Pano.

domingo, 2 de janeiro de 2011

As pessoas que admitem que estão felizes sozinhas, não estão felizes sozinhas, porque a felicidade só é valiosa quando nos falta. Quando estamos felizes raramente nos lembramos.

Mas eu estou feliz sozinho! x)