tag:blogger.com,1999:blog-76892249113880342072024-02-19T17:25:53.868-08:00GuilhermenteFalemos Guilhermente, e com Guilhermidade.Unknownnoreply@blogger.comBlogger88125tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-53302679718190130052013-07-31T17:44:00.001-07:002013-07-31T17:44:27.282-07:00são testemunhas as estrelasPrimeiro era o som da madeira. Sons curtos da madeira pisada, separados por silêncios iguais. Depois a areia. Quanto mais afastado da cidade, mais estrelas se faziam notar. E então pensava "são testemunhas as estrelas do céu" olhava para trás e concluía "e as luzes da cidade". Testemunhas distraídas, por terem vida própria - alheias a nós - e no entanto para a nossa tão preciosas. Seriam testemunhas, estariam presentes. Caminhava para a escuridão, para o som do mar quando é nocturno e escuro e assustador. Caminhava já na areia, e já o som do mar era quase mais alto do que o dos passos. Ao meu lado, vejo com a ajuda do luar, um alto-relevo na areia, uma construção que não consigo adivinhar, um desenho indecifrável que não havia visto ao passar por aqui de dia, mas que à noite saltava no escuro à vista desamparada. Depois, nisto, um grito.<br />
"Ei!"<br />
Olhei para trás, nada: silhuetas de casas de madeira - arrecadações e bares fechados - e a cidade, incrivelmente silenciosa de tão longe ouvida. Voltei o corpo para o mar.<br />
"Ei!"<br />
O mesmo grito. Virei-me para as silhuetas, semicerrei os olhos, filtrando a luz, tentando decifrar vultos que se movessem. Não havia nada. Respondi:<br />
"Ei!"<br />
Como um eco, mas com voz diferente, veio de uma silhueta negra uma resposta. E uma mensagem indecifrável. O corpo sem forma, ainda, aproximava-se cada vez mais. O passo era acelerado. Gritava enquanto caminhava, como se quisesse que a mensagem fosse rede que me prendesse.<br />
"Não pode ir para aí!"<br />
"Não posso?"<br />
"Por causa do vandalismo."<br />Mal ele sabia. Era afinal um velho, um homem de casaco impermeável, preocupado.<br />
"Mas o senhor pode confiar em mim. Vou só deitar-me um pouco."<br />
O homem hesitou.<br />
"Mas não posso. Tenho ordens."<br />
"E ali?"<br />
Apontei para a esquerda do mar.<br />
"Depois das cordas."<br />
"Obrigado. Desculpe."<br />
Fui. Acho que ele também se foi, se ficou para ver para onde ia, ficou pouco tempo, porque quando voltei a fitar o caminho ele voltava, agora mais nítido que o desenho. Estranhei não ter passado por ele no caminho. Se estava lá, porque não me falou logo?<br />
O declive da areia parecia um precipício. O som do mar era forte, mas até ver as ondas, parecia que estava lá no fundo e que a surpresa de uma altura gigante era iminente. Mas não, apenas declive mais acentuado, um areal moldado pelo vento e pelas marés.<br />
O que ia ali fazer era mesmo deitar-me, olhar para as estrelas, procurar algumas respostas. Levava um caderno, obviamente escrevi o que tinha acontecido antes. Falei contigo depois do último ponto final na primeira página. Não escrevi mais. Olhei para o mar, depois para as estrelas. Não me lembro de ver a Lua, estava mesmo a tentar olhar para as estrelas. Lembro-me de ver a Ursa Menor, mas foi a única que identifiquei. Depois deitei-me para trás. Não havia lá ninguém, mas fiz força para que não me saíssem mais do que duas lágrimas, uma de cada olho. Seria demasiada, a água salgada. De repente as estrelas pareciam mover-se. Mas seriam as lágrimas retidas nos olhos que provocavam essa ilusão. Depois, uma estrela cadente. Duas. Três. Uma mão cheia delas, e a cada uma dedicava um desejo. A todas dediquei o mesmo. A sensação de movimento voltou, mas agora também na praia parecia haver movimento. Olhei em volta. Nada. Aliás, escuridão. E o mar. Mas impressões de movimento, reais ou imaginadas, faziam-me olhar para todos os lados, procurando na praia fonte de companhia ou perigo. Também no céu, não as estrelas mas nos espaços entre as estrelas, algo se movia. Pelo menos era a sensação que dava. Limpei os olhos. Várias vezes limpei os olhos, e de me recordar agora arrepio-me. Estava acompanhado. Já não apareciam estrelas cadentes há um bom bocado, mas os movimentos sem corpo não paravam. Nunca se sabe quando um homem, mesmo que não acredite, está perante figuras divinas, por isso levantei-me. Sempre fui um sonhador. Pensei "uma estrela cadente se", interrompi o pensamento, estava sozinho, podia falar em voz alta. E se ali estivesse alguém a quem perguntar algo seria bom que me ouvisse, em vez de tentar decifrar o meu pensamento.<br />"Uma estrela cadente se Mantadora não ama Gostonto."<br />
Nada.<br />"Uma estrela cadente, visível, se Mantadora não ama Gostonto."<br />
Queria começar pelas questões onde a resposta negativa não é sinal de decepção mas regozijo.<br />
Nada.<br />
"Uma estrela cadente se Mantadora ama Gostonto."<br />
E nada.<br />
"Uma estrela cadente se não sabes."<br />
"Uma estrela cadente se existes."<br />
Nada. Lembrei-me que podia ser por falta de educação no pedido, e completei-os todos.<br />
"Por favor."<br />
E nada.<br />
Voltei costas. Comecei a caminhar e imaginei duas estrelas cadentes aparecerem atrás de mim, no imenso céu. Ainda olhei, mas ou fui tarde de mais ou cedo de mais ou elas nunca chegaram a aparecer.<br />
Quando voltei, o velho não estava em lado nenhum. Ainda gritei "obrigado", mas não houve eco para ser ouvido. Voltaram os sons da madeira, retiraram-se as estrelas, ouvia-se novamente a cidade.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-88649720617241682192013-02-27T06:55:00.001-08:002013-02-27T06:56:00.254-08:00Estou com a merda do coração todo aleijado.<br />
Hoje passou-me pela cabeça fugir disto tudo. Andar pelo mundo. Ser salvo à beira da morte por militares norte-americanos e dizer que sou um biólogo italiano, que me chamo Giuseppe Viscontti. Nascer e morrer ao mesmo tempo.<br />
Ir para a Tailândia, com uma cana de pesca, sentar-me num rochedo, ver as coisas e escrever poemas num caderninho. E não tenho a certeza se fazia a segunda...<br />
<br />
Vou fazer uma aposta comigo mesmo. Durante um ano (portanto, até 27 de Fevereiro de 2014, às 15h) vou recusar o amor, não me vou apaixonar. Se não conseguir levar isto avante, desapareço durante um ano.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-61305203869711221552013-01-24T14:07:00.002-08:002013-01-24T14:07:59.032-08:00Carta da Terra ao Sol"às vezes gostava de não sentir nada"<br />
"quando?"<br />
"sempre. gostava de não sentir nada sempre, ou de nunca sentir alguma coisa."<br />
"porquê?"<br />
"problemas."<br />
"que tu tens?"<br />
"que posso ter."<br />
<br />
O dia tinha acabado, pensávamos nós.<br />
Atrás das montanhas, no entanto, ainda se fazia adivinhar uma claridade de dia. O dia é muitas vezes associado à esperança. Neste caso não. O dia era sinónimo da continuação de algo que queríamos evitar. Estávamos contentes com a chegada da noite, não queríamos acordar já.<br />
Ò Sol, porque teimas em voltar? Porque não te vais embora? Porque é que não te apagas?<br />
Não venhas hoje, por favor, volta noutro dia, noutro sítio. Desculpa se te apertar a mão apenas, mas confesso que neste momento até tenho medo de ti. Tens demasiados planetas que se preocupam contigo, e tu deves preocupar-te com eles, não é?<br />
De qualquer maneira, fica sabendo que gosto muito de ti. Hã?<br />
<br />
Forte abraço, e um beijinho.<br />
TerraUnknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-33248368532618029752012-09-09T15:42:00.002-07:002012-09-09T15:42:14.031-07:00E se de repente fossemos todos músicas comerciais brasileiras?<br /><br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/Xh7bdsJWJCU" width="560"></iframe>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-29194617793969133952012-09-02T16:29:00.001-07:002012-09-02T16:35:40.179-07:00<i>"O Guilherme é um parte corações." </i><br />
<div>
<i><br /></i>
<br />
<div>
Não, o Guilherme é um coração partido.<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/OmLNs6zQIHo" width="560"></iframe></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-75841206857927872772012-08-21T09:45:00.002-07:002012-08-21T09:45:29.323-07:00#99Um dia somos nós, no outro somos nós, outra vez. A simplicidade é decepcionante. E a vida é simples, por isso é decepcionante. E a vida é simples porque se fosse complicada ninguém vivia. As pessoas não gostam de coisas complicadas. Gostam de coisas desafiantes até certo ponto. Como o Campos diz num poema, não somos romancistas russos, e romantismo sim, mas com calma.<br />
<br />
Bem. Eu estou a escrever porque devia estar a trabalhar. Tenho ali, na sala, um molho de papéis para ler e trabalhar (mais tarde saberão mais).<br />
<br />
No filme "Cinema Paraíso" o Alfredo conta uma história muito interessante sobre um soldado e uma princesa.<br />
<br />
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<br />
Eu acho que cheguei à 99ª noite.<br />
<br />
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/64HQA9Bo32I?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
Há uns dias que ando a pensar. E penso muito numas coisas um bocado esquisitas. No sábado encontrei este canivete no armário. Pensei "quero fazer um barco, fazer um barco é que era giro". Por isso fui até à mercearia, e pedi cavacas de madeira, eles disseram-me que só tinham bananas da Madeira, por isso pedi um cacho daquilo. Enquanto as pesava, a menina que me atendia, com um decote chamativo, perguntou-me<br />
o que ia fazer com elas. Olhei à volta e, como não vi ninguém, deduzi que falava das bananas. "São para comer? É que estão um pouco verdes ainda, convém deixar um tempo para amadurecer.". Perguntei-lhe se era verdade o que ela dizia, ela disse que sim. Perguntou-me se as queria apalpar, as bananas. Olhei para elas, e pensei por um bocado. "Não, sabe", disse eu, "gosto de ser surpreendido. Além disso, a coisa, enquanto tiver a casca não é de fiar. Nunca se sabe!". A rapariga, emitiu um som de riso contido. Não sei se sorriu porque não lhe consegui olhar para a cara. Não conseguia tirar os olhos das bamamas. <i>(pausa) </i>Bananas, digo. "E então, vai comê-las?". "Ah! Não, não, não, não... É para fazer um barco.". Ela disse que era uma boa ideia. Eu sorri e olhei para os meus pés, que estavam numa posição estranha. Aí, não me contive e desmanchei-me numa gargalhada que fez as mangas e os maracujás saltar das caixas onde estavam e começar a dançar salsa no chão.<br />
<i>(ri-se)</i><br />
<i>(pausa)</i><br />
Quando cheguei a casa, hoje, pousei o saco de plástico transparente com as bananas lá dentro em cima da mesa da cozinha, uma mesa em forma de estrela de David porque assim tinha mais espaço para aproveitar no centro. Pequei no bloco de notas para fazer o plano do barco e, claro, escrever detalhadamente os passos do processo. Decidi que iria fazer uma canoa, de uma banana só, o que me causava um problema: o que fazer com o resto do cacho. Como sou meio desastrado percebi que seria bom ter umas bananas para treinar, antes de mexer na que me interessava. Não queria que a embarcação ficasse muito grande, não queria ir nela até à América. Mas quando pensei nisto, comecei a imaginar uma viagem numa canoa de banana da Madeira até à América. De repente comecei a ter uma dor aguda por cima dos olhos, e comecei a escrever. <i>(ri-se)</i> Na minha história, cujo personagem principal se chamava Cristóvão Barata, e era uma barata, o Cristóvão ia partir na canoa. Ia sozinho, por isso, ainda no lavatório cheio de água, despediu-se de todos os que tinham vindo para se despedir. "Adeus, meus amigos", dizia ele, "adeus, meus bichos!". E uma velha traça dos alimentos despedia-se dizendo "Adeus, meu animal! Adeus, minha barata tonta!". Todos os presentes, até o esfregão sorriam com ternura e sofrimento. <i>(tempo)</i> Todos diziam com as caras esperançosas e sonhadoras, mas com os espíritos desolados, que iam sentir muito, muito, muitíssimo a sua falta, que iam sentir muito a sua falta, que iam imaginar que ele estava sempre com eles, que ele estava aqui, e apontavam para o peito. <i>(pausa longa)</i> Depois pensei... Depois pensei que... Pensei que já não tenho ninguém. Olhei à minha volta, já estava aqui sentado... E a única coisa que vi foram as pessoas lá fora, todas coloridas naqueles trajes académicos de Coimbra. E eu não tinha ninguém. Dantes havia tanta gente a gostar de mim. Porque é que se foram embora. Porquê? <i>(tempo) (a chorar)</i> Olhei à volta e reparei que se tinham ido todos embora. E eu tinha saudades. Eu tenho saudades. <i>(chora)</i> Porque é que só agora é que tive saudades? <i>(pausa longa)</i> E as saudades foram tantas que se transformaram em tristeza, depois desespero, depois alegria, depois um desejo enorme de me matar com o canivete que encontrei no armário. De fazer um furo na mão, um buraco. Ver os dedos a perderem a cor, ver o mundo através da minha mão, da minha mão de artista. Tirei o canivete do bolso, ele é da cor do vinho tinto. Abri o canivete, olhei para a lâmina, que é muito grande. Naquele momento pensei que não seria boa ideia fazer a canoa com aquilo, a lâmina era grande demais. Examinei-a. Estava brilhante , espelhava na perfeição o mundo. Mostrava em alta definição uma realidade invertida. Achei a coisa muito engraçada e quis ver como é o eu invertido. <i>(sorri, com as lágrimas nos olhos)</i> Olhei para mim. Olhei para os meus olhos durante muito tempo, não pareciam tristes. Os meus olhos estavam normais. Depois olhei para a minha cara e pensei "eu sou bonito". Afastei a lâmina e agora, para além de me ver a mim, via também o que estava atrás de mim, o que estava a fazer fundo. <i>(olha para trás)</i> Era fantástico. Havia frases escritas nas paredes com baton vermelho, versos. A minha casa é um poema. Havia quadros, desenhos, mundos imaginários tornados possíveis pela destreza de uma mão de artista. De repente não fazia sentido o buraco na mão, para ver o mundo. Eu podia criar o mundo. Eu podia criar pessoas, eu posso fazer pessoas com as minhas mãos. Posso fazê-las e dar-lhes vida. Não posso fazê-las respirar, ou dar-lhe um coração ou um cérebro, mas posso dar-lhes vida. Nome, idade, qual a sua origem, se são casados, o que comem quando vão a um café, como são quando estão bêbedos! <i>(ri-se)</i> E não precisava das pessoas de quem tinha saudades, fossem eles quem fossem, eu podia fazer os meus amigos, eu podia construí-los! Os meus amigos iam ser obras de arte. Como num dos quadros que lá estava, em que tudo era feito de copos de cristais, ou o outro em que as pessoas eram gomos de tangerinas, eu ia fazer os meus amigos com as bananas da Madeira! Saí de casa a correr, caí nas últimas três escadas e fiz um golpe na testa. <i>(mostra o golpe na testa, levantando a franja)</i> Este. Cheguei à mercearia e disse "Dê-me todas as bananas que tiver!". A rapariga sorriu e perguntou-me se ia reconstruir o Titanic. Não percebi o que ela queria dizer ao início, mas depois cheguei lá e ri-me. Olhei-lhe para a cara dela. <i>(pausa)</i> Olhei-lhe para os olhos. Eram muito claros, quase brancos. Ela era cega. <i>(tempo)</i> Por momentos pensei no que vêem os cegos. Será que não vêem nada? Eu acho que eles vêem o nada, precisamente. Enquanto pensava a rapariga perguntou qualquer coisa, como não a tinha ouvido perguntei o que era e ela repetiu o que tinha dito. Não a consegui ouvir outra vez. porque os lábios dela teimavam em mexer-se de uma maneira muito bonita, como se fossem duas bailarinas. Que lábios bonitos, meu Deus. Naquele momento eu queria agarrar nela pela cintura, levantá-la, com ela a ri-se, e raptá-la! Levá-la para o meu espaço preto e branco. Levá-la a conhecer o meu poema. Comecei a cantar, não sei porquê. Comecei a cantar uma música que inventava naquele momento. Uma música que não tinha nome, ainda. Era uma música, simplesmente. Não se explica, não conseguia baptizá-la porque não a estava a ver toda. <i>(canta)</i> A rapariga sorriu e disse que era muito bonito. Depois perguntou o que era e eu disse "És tu!". Ela começou a chorar. Esticou os braços e tocou-me na cara com os dedos e depois com as palmas das mãos. A tocar-me na cara deu a volta ao balcão e pôs-se em frente a mim e abraçou-me. Abraçou-me assim. <i>(mostra)</i> Eu sorri, perguntei pelas bananas, ela virou-se apalpou o balcão à procura da caixa grande onde as metera. Quando a encontrou, agarrou-a e parou por um bocadinho. Depois levantou a caixa, virou-se e deu-ma. Eu dei-lhe o dinheiro e despedi-me. Quando me vim embora, reparei que ela tinha ficado a olhar para mim, como se visse. Tinha ficado a olhar sem ver, como se estivesse a imaginar alguma coisa, como se estivesse a sonhar acordada. Ela estava a criar. Ela estava a criar um mundo hipotético. Ela era uma artista. Depois, quando se lembrou que não tinha escolhido ser artista, voltou ao mundo, e foi, apalpando o caminho, para trás do balcão. <i>(pausa) (sorri)</i> Eu vim para casa e comecei a trabalhar nos meus amigos. Tinha já duas figuras feitas, quando fui beber um copo de água. Enquanto bebia, o olhar fugiu-me pela janela. <i>(pausa) (olha melhor) (começa a chorar)</i> São eles... <i>(pausa) </i>São eles! E estão a viver, e a ser felizes. E estão juntos, no mesmo mundo. <i>(pausa)</i> Estão juntos... Mesmo mundo... <i>(pausa)</i> Olhei para eles durante um bom bocado. Eles estavam a andar em câmara lenta. Estavam muito diferentes, mas ao mesmo tempo iguais. Olhei para as figuras que tinha feito. Eram eles. Olhei lá para fora, eles tinham-se juntado e estavam em pose de fotografia de família. Olhavam para mim, e eu para eles. O olhar deles sim, tinha-se tornado triste quando olharam para mim. E eu pensei "quero ir ter com eles". Tentei abrir a janela, mas ela não se podia abrir. Saí pela porta, mas o mundo não era o mesmo. <i>(pausa) </i>Eu estava preso num mundo que eu próprio tinha criado. Eu fazia parte da minha criação. Tinha-me isolado dentro de mim, e esse era o meu mundo a preto e branco. A janela eram os meus olhos. A minha casa era eu mesmo. Os meus mundos eram o meu corpo. E eu queria sair daqui. Qual é o interesse de viver num mundo que eu criei? O que é que eu podia aprender com isso se, sendo eu o criador, sou detentor do conhecimento total? <i>(começa a chorar)</i> Eu queria sair. Gritei por eles, mas eles não me ouviam. Não tenho poder nenhum. Não tenho importância nenhuma! As pessoas só importam enquanto são vivas e eu estava morto. Quer dizer não estava morto, mas estava. Vocês são parte da minha criação. Eu estou a ver-vos, vocês vêem-me e aquilo que fazemos aqui é parte da minha criação. Eu sei que vocês vão ficar aí. Vão estar calados, não é? <i>(pausa)</i> Sim, eu estou a ver-vos, não me são indiferentes. Olha, ali está a rapariga da mercearia. <i>(pausa) (tristemente e baixo, quase um suspiro chorado)</i> Ai, Santana, Santana... <i>(olha para o público)</i> Devíamos fazer alguma coisa, todos em conjunto. Devíamos cantar. Cantam comigo? <i>(canta uma música infantil que todos conheçam)</i> Por favor, cantem comigo. Mostrem-me que existem! Salvem-me. Tirem-me daqui! <i>(chora)</i> Por favor... <i>(canta mais alto).</i><br />
<i>(Enquanto canta, levanta-se com o canivete e a banana na mão. Deixa-o próximo do público. Vai às janelas, fecha as persianas. A lareira está acesa. Abre o caixão e, a cantar, deita-se lá dentro. Fecha o caixão e vai cantando progressivamente mais alto, cada vez mais alto até estar a gritar e mudar a melodia completamente. A certa altura começa só a gritar. E cala-se.)</i><br />
<i><br /></i><br />
<i>(Silêncio muito longo)</i><br />
<i>(Pano)</i><br />
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</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-69209645338063868622012-06-13T07:22:00.001-07:002012-06-13T07:22:24.591-07:00Santos Pensamentos PopularesOntem, quando passei pelo Chiado durante a madrugada, ouvi um rapaz agarrado à estátua do Pessoa (estátua que faço questão de cumprimentar, mesmo que apenas com o olhar, sempre que por ali passo) a dizer uma coisa muito interessante, apesar de ele não ter pensado da mesma maneira como eu entendi. Ele disse "Vou fazê-lo sorrir!". Achei a coisa muito interessante, por um lado pela impossibilidade de mudar a expressão de uma estátua, por outro, por nunca ter visto o Pessoa a sorrir para além de uma pequena contracção, mesmo ligeira, numa ou noutra fotografia. Há ainda outra coisa interessante, e que vai de encontro ao que quero falar aqui. O rapaz, devido eventualmente ao seu estado de embriaguez, acho importante que todos sorrissem, até o Pessoa. Queria que todos partilhassem da sua alegria. Escusado será dizer que o Pessoa manteve a compostura, e já está há mais tempo sóbrio do que esteve bêbedo em vida. É interessante esta necessidade de nos preocuparmos com os outros. É amor, isto, é amor de um género qualquer, mas é amor, isso é inegável. E o que é que o amor implica?<br />
No outro dia estava a falar com uma pessoa sobre este tipo de coisas e disse-lhe que não era a fazer do compromisso, não me consigo comprometer, e entendo que isto choque, ainda que me maneira efémera e ligeira, as pessoas que me ouvem dizer, mas, neste momento, não me consigo comprometer. E comprometer é, também, assumir uma paixão, ou qualquer coisa que isso seja. Comprometer não é só estar ao lado de alguém é manter-se fiel, e ser fiel não é reservado a relações entre indivíduos, mas, numa vertente mais metafísica, às ideias que temos, àquilo que dizemos, por isso não gosto de gostar de ninguém, e quando gosto, venho para aqui escrever. É a minha maneira de me comprometer, mas aqui comprometo-me com o teclado e uns poucos olhos interessados, ou não, em letras e frases e pensamentos e amor e pensamentos sobre o amor. Por isso é que este espaço ainda existe. <br />
Isto seria mais fácil, e interessante, se fosse um diálogo. Monólogos deste género não são aconselháveis. Por isso gostava de falar contigo que estás a ler este post. Vamos fazer um debate de ideias. Contigo mesmo, leitor. Sim?<br />
Eu lanço o moto: Gosto muito mais de paixões platónicas que do amor em si!Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-53492866593190321552012-05-25T14:35:00.001-07:002012-05-25T14:35:31.641-07:00Um poema para ti, em jeito de carta de despedida que é um convite para jazzÉ triste para mim estar apaixonado.<br />
Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, eu não sou poeta. Não sei escrever poesia. Não sei viver poesia. Só a sei dizer, como toda a gente.<br />
Merda.<br />
Não tenho coragem. Sou um leão no passeio de tijolos de ouro.<br />
Estou triste agora. Sinto-me frágil e inútil. Sinto falta de alguém, mas não tenho coragem de a chamar. Dou demasiada importância às pessoas. Aliás, dou demasiada importância a pessoas.<br />
Num papelinho que encontrei na minha caixa de papelinhos, um pedaço de papel rasgado, pequeno, datado de há dois anos atrás, escrevi só uma frase: "Diz não ao amor!".<br />
Sinto que devia andar com o papelinho sempre no bolso, ou na carteira, para me lembrar de dizer que não quero. Que não devia. E este não-querer não é voluntário. É imposto pela minha maneira de ser.<br />
Tenho uma mania estúpida de me apaixonar por pessoas que são muito mais do que eu.<br />
<br />
Gostava de escrever um bilhete, claro, como o Souto me disse para fazer, mas não tenho coragem.<br />
Gostava de escrever um poema, mas não sei como o fazer.<br />
Gostava de lhe dizer alguma coisa de muito agradável e bonita, mas não sei como o dizer. <br />
Gostava de lhe dizer que ela é um poema, cheia de enormes universos, cheia de beleza e cheia de tudo.<br />
Gostava de lhe ler um conto.<br />
Gostava de lhe sussurrar um poema.<br />
Gostava de lhe cantar uma canção.<br />
Gostava de lhe dedicar um golo da selecção.<br />
Gostava de lhe beijar a mão.<br />
Gostava de lhe olhar nos olhos durante muito tempo.<br />
Gostava de lhe pintar um quadro.<br />
Gostava de lhe roubar um beijo.<br />
Gostava de a levar ao um bailarico de verão.<br />
Gostava de a convidar a dançar.<br />
Gostava de lhe dizer que é muito bonita.<br />
Gostava de inventar uma palavra nova para ti.<br />
<br />
<br />
E gostava de concretizar o que disse,<br />
gostava de concretizar o que disse,<br />
gostava de concretizar o que disse. <br />
Mas o que vou acabar por fazer é tentar esquecer o que gostava. Porque, no fundo, o que eu gosto mesmo é de não ter de me preocupar. É de estar confortável dentro do mau estar que é estar desconfortável.<br />
<br />
E isto é o mais próximo de um poema que lhe vou dedicar, de um bilhete que lhe vou entregar ou de uma música que lhe vou cantar que consigo fazer. Enfim.<br />
Não vos desejo isto. Não vos desejo que isto vos aconteça.<br />
Não desejo nada neste momento. Neste momento em que, apesar de não estar a deprimir, estou muito triste e invejoso de todos os que não são como eu.<br />
<br />
Vamos ouvir jazz, ?Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-7693409758088401642012-04-27T14:46:00.000-07:002012-04-27T14:46:01.804-07:00Uma sala escura. Um espelho. Uma caixa de cartão. Uma tela pintada. Um boneco de peluche.<br />
<br /><b>Gaspar</b> <i>(Do interior da caixa)</i> Sabes uma coisa? Não acredito em ti. (ri) O que te dá autorização para não acreditares em mim! <i>Tempo. </i>Mas não acredito em ti no sentido de não acreditar no que estás a dizer. Não acredito que estás aqui.<br />
<br />
Pausa.<br />
<br />
Estás aqui, não estás?<br />
<br />
Pausa.<br />
<i><br /></i><br />
<i>(Não se ouvindo nada.)</i> Ah! <i>Tempo. </i>Sabes que é perigoso entrar em grutas que não conheces. No bosque há algumas, mas eu estive a sinalizá-las para não caíres lá como os outros.<i>(Sai da caixa de cartão.)</i> Ufa! Estou cheio de teias de aranha, acreditas? <i>(ri às gargalhadas)</i> Isto é giro. Pareço uma aranha. Hã? Ah, sim! Uma teia! Ou um móvel velho! Ou uma biblioteca!<br />
<br />
<b>Guilherme </b><i>(Escondido atrás do espelho) </i>Gaspar, estás a falar comigo?<br />
<b>Gaspar</b> Não.<br />
<b>Guilherme </b>Ah.<br />
<br />
Pausa.<br />
<br />
Sabes, não acredito em ti.<br />
<b>Gaspar </b>Em mim?<br />
<b>Guilherme </b>Hã?<br />
<b>Gaspar </b>Não acreditas em mim?<br />
<b>Guilherme </b>Em ti acredito.<br />
<b>Gaspar </b>Ah! Estavas a falar com quem?<br />
<b>Guilherme </b>Comigo.<br />
<br />
(cont.) <br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-62400174145693550882012-04-13T17:53:00.007-07:002012-04-14T08:30:39.128-07:00Bicho<div style="text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/ZkajlywMlsk" width="560"></iframe></div><br />
"Por favor, entre."<br />
A voz era familiar, mas estava encapuçada, por isso seria muito difícil dar cara ao corpo peludo.<br />
"Obrigado."<br />
O lustre estava alto. Brilhante. Estava imenso calor lá dentro.<br />
"Que bonita está!"<br />
Tiraram-lhe o casaco. Era volumoso e castanho acinzentado. Feito de esponja.<br />
"Esse vestido é lindíssimo, é de quem?"<br />
Vinha de vestido vermelho. Os lábios estavam sobriamente pintados de vermelho, a pele excessivamente branca, os olhos vermelhos, como os dentes.<br />
"Posso tirar uma fotografia?"<br />
"Claro!"<br />
"Permita-me só que acrescente um pormenor."<br />
"Claro!"<br />
Tira um lápis preto do bolso. Desenha-lhe um ponto um pouco acima do lábio, próximo do canto direito da boca. Rapidamente foge aos limites do ponto, e de ponto passa a linha, depois mancha, num instante estaria preta por completo.<br />
"Óptimo!"<br />
"Gosta?"<br />
"Sim, sim. Fique só um instante quieta."<br />
"Claro."<br />
O macaco vestido de pinguim tirou os binóculos por um momento. Os seus olhos eram pequenos. Levou a máquina ao rosto. Desligaram a fonte de chocolate que estava no centro, e começou a tocar uma orquestra de violinos entre o macaco e a recém preta.<br />
"Um momento..."<br />
Toda a gente começou a dançar, e não demoraria muito até que <i>os passos de dança provocassem a queda da parede lateral</i> onde estavam desenhadas cenas de caça.<br />
"Um..."<br />
A fotografia começava a ser um sacrifício para todos. Uma avestruz acabara de ter um ataque cardíaco por falta de comida nas penas. O porco levantou-se com uma perna de presunto na mão e cumprimentou, acenando a cabeça, a vaca que pedia agora um hambúrguer vegetariano.<br />
"Dois..."<br />
Eles pararam de dançar, e a parede voltou a compor-se. O tecto ganhou uma racha entre os bicos, que quase se uniam, de um pato e um cisne. Uma especiaria começou a cantar e, de repente, todos queriam ser amigos dos amigos dela.<br />
"Três!"<br />
E com isto o macaco carrega no botão. Lançam-se confetis e tocam cornetas. A racha no tecto abre em buraco e uma máquina de lavar roupa cai de lá com a porta aberta. As luzes desligam-se e vê-se tudo à luz escura. A máquina, que era branca, caía azul e o sorriso na cara dos presentes era amarelo. Porco rompeu numa gargalhada que ganhou proporções astronómicas! Tanto que Andrómeda teve de vir pedir silêncio sob a ameaça de mostrar o buraco negro.<br />
E a máquina. O movimento de queda da máquina era em câmara lenta, por isso os casais poderiam recomeçar a dançar pois ainda faltava muito para a máquina atingir o chão.<br />
"Quer dançar?"<br />
"Claro" - disse a preta - "Mas tenho de estar aqui antes da meia noite!"<br />
A preta estava no local de embate. A máquina cairia sobre ela e não o poderia evitar, à meia noite tinha de ali estar.<br />
Dançaram uma valsa, enquanto o canguru bebia café.<br />
E a máquina descia.<br />
O Coelho tomou o púlpito e começou a falar.<br />
"Animais" - dizia ele - "Estamos neste jantar por um motivo."<br />
Toda a gente congelou sob a luz negra. Da preta só se viam os dentes roxos e o vestido, da mesma cor, pois congelara de olhos fechados. Apenas Coelho estava iluminado por uma luz que entrava pelo buraco da máquina, que era a única coisa em movimento, lento.<br />
"Por favor, paguem a felicidade antes que alguém se tenha de ir embora. Odeio ter de ser eu a dizer isto, mas a culpa é do Sapo, que entretanto já cá não está. Não foi convidado, a pedido da porta."<br />
O movimento voltou à sala, mas apenas para um grupo de pessoas mais feias que saíam de buracos que faziam no soalho. Houve um que saiu da gaveta onde o suricata tinha os óculos.<br />
Um por um, os sorrisos foram desaparecendo.<br />
A sala estava agora repleta de pirilampos-olhos. Vista de cima parecia um bananal ao longe, para quem é míope.<br />
Entretanto a meia noite chegara, e a preta teve de ir para debaixo da máquina. Olhou para cima e não chegava um palmo para que a máquina engolisse este belo, e único, espécime de ser humano. A porta da máquina estava aberta e voltada para a preta. Os relâmpagos acenderam-se como lâmpadas fluorescentes no céu.<br />
A preta desapareceu. E com ela desaparecera toda uma espécie. Apenas os sapatos ficaram, e mesmo esses eram feios e cheiravam mal, por isso foram para o lixo.<br />
Houve um momento de silêncio.<br />
<br />
Os confetis saíam dos cantos da sala e uma corrente de felicidade unia os presentes. Coelho devolveu-lhes os sorrisos, e o da preta foi ter com os sapatos. Papel de embrulho foi servido com caviar por um esturjão vestido de prisioneiro judeu, com os bigodes à Dali. Ouviam-se cânticos satânicos por coros celestiais. Havia auto-retratos em todo o lado. O cavalo comeu de uma vez uma cenoura de ouro que guardava à anos. O periquito largou o <i>Grammy</i> e começou a dançar. A raposa bebeu um <i>nespresso. </i><br />
<i><br />
</i><br />
Entretanto, a preta subia, descalça, para um sótão escuro. Aí encontrou um homem cor-de-rosa.<br />
<div style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">Havia um gira-discos. Começou a tocar Bach. O sótão tinha uma janela apenas e o tecto estava repleto de frescos renascentistas. Ao canto estava um homem com um bloco de mármore. Era feio e estava curvado. Tentava entrar no bloco.</div></div>"Queres dançar?" - perguntou a preta ao homem cor-de-rosa.<br />
"Sim."<br />
Pelo tamanho das unhas dos pés, diria que a dança caminhava para o eterno.<br />
<br />
<div style="text-align: left;">Dançaram, <i>e as paredes começaram a rachar.</i><br />
<i><br />
</i></div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/uZ-69nWR4wk" width="560"></iframe><br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqt1lqkkl4YrUtaLL7A3-5g2AZEjzZhElMpNhu64jv-J2xIhsl1eEOINpguQG-CC8PSQXx1imwbMm2lpcCrmaY7dHAl-BJW6ACmi0zWArEL4xFvmgddGd6qZldw3C7PZQ5DzXkJnRW-Ck/s1600/Imagem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqt1lqkkl4YrUtaLL7A3-5g2AZEjzZhElMpNhu64jv-J2xIhsl1eEOINpguQG-CC8PSQXx1imwbMm2lpcCrmaY7dHAl-BJW6ACmi0zWArEL4xFvmgddGd6qZldw3C7PZQ5DzXkJnRW-Ck/s320/Imagem.jpg" width="111" /></a></div><br />
</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-52775601400990429412011-12-27T07:29:00.000-08:002011-12-27T07:35:45.319-08:00Me-ta-ar<iframe width="560" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/qm0oFaNKeso" frameborder="0" allowfullscreen></iframe><br />
<br />
<br />
O Sol estava no auge da sua magnitude. Fumava o seu charuto e bebia um <i>scotch</i>.<br />
<br />
O elefante era cinzento, a sua sombra cobria uma grande área debaixo da sua barriga. Na realidade, as suas orelhas eram tão grandes como um gafanhoto com altura acima da média. As suas imponentes penas de pavão estavam eriçadas. Estava frio. Pousou a sua bolsa <i>Louis Vuitton</i>, abriu-a, e tirou de lá a tenda onde ia dormir esta noite. Tinha-se esquecido do cachecol em casa, por isso ligou para as nuvens a pedir auxílio, mas ninguém atendeu, porque estavam todos ocupados com o<i> fondue</i> de chocolate. Neste momento o elefante tem um <i>dejavú</i>, e aparece-lhe, saída de um coco das silvas, uma avestruz com pernas de <i>Tina Turner</i>. Era a avestruz mais bela da Lua e tinha os olhos mais bonitos. Tão bonitos que seria um crime não os poder ver. Curiosamente, a avestruz nunca os tinha visto. O elefante não era bom com as palavras. Pôs de lado a tromba e foi ter com a ave que neste momento estava a beber um batido de morango. O gigante olhou para a avestruz e no meio de tantos pensamentos apetrechados de asas o que se lembrou de dizer foi "hmmm... Isso parece ser saboroso!". A avestruz entendeu isto como um acto de carinho, uma tentativa de aproximação mal preparada e que poderia significar a morte do artista. Sabia que tinha na mão o poder de partir o coração deste bicho infinitamente maior que ela. Olhou para ele. Tentou decifrar-lhe o olhar. Tarefa difícil, pois os olhos dele pareciam duas pequenas, mesmo pequenas, borras de café. Perguntou-lhe o que queria. Ele disse-lhe que neste momento, queria beber um batido de framboesa e ficar a falar com ela e a olhar para ela durante a tarde toda, até a mãe o ir buscar. Ela sorriu. Tinha aparelho nos dentes. Atirou uma moeda para a <i>jukebox</i> e começou a tocar uma música longe de balada, convidou-o a sentar-se. Tirou um cigarro e começou a fumar. Chegou o batido para o elefante, ela pediu outro para ela. Olharam-se. "O que queres?", perguntou. "Amar-te.", respondeu-lhe. Com isto caiu um prato do balcão e a bola de espelhos partiu-se. "O que queres?", perguntou. "Amar-te.", respondeu. "Já viste os olhos bonitos que tens?" O que queres, "perguntou". "Não." Amar-te, "respondeu". "São muito bonitos." Amar-te-amar-te-amet-ar-mer-ta-mare-tare-etc. "São?" Sim. Se pudesse trocava de olhos contigo para os poderes ver. De repente, surge um sapo médico, com sapatos <i>vintage</i>. O tratamento é infinitivo. Como? Não podem voltar a trocar. Então não quero! "Quero eu!" Egoísta! Desculpa? É egoísta, quer fazer isto só para poder ver os seus olhos. "Quero fazer isto para ele ficar com eles." Porquê? "Porque gosta tanto." Mas eu sou míope. "Também não te quero muito longe." Sorriram. Diz? Vamos a isto? Sim. "Sim." ( - ) "Olá." Olá amora. "Amoras-me?" Claro. A mãe dele chegou.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-77023439699716354212011-12-23T07:59:00.000-08:002011-12-23T07:59:23.423-08:00Sim, é sobre ti.<div style="text-align: center;">Faz-me mal vir a Viseu.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/kkxWyt7K4hw" width="420"></iframe>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-88670967240404214962011-09-10T17:29:00.000-07:002011-09-10T17:31:13.272-07:00SOSO que é um poema com um verso? É um Universo.<br />
Se somos tão simples, porque é que complicamos. Conheci hoje um rapaz chamado Eugénio. Aliás, foi-me apresentado. É um apaixonado, um lírico. Escreve poesia.<br />
Foi-me apresentado em circunstâncias pouco comuns, mas a sua descoberta fez-me perceber que estas duas últimas semanas foram próximas daquilo que poderei chamar as mais felizes da minha vida. No entanto, e por ter conhecido o Eugénio, hoje senti-me mal comigo mesmo. Se me olhasse ao espelho teria automaticamente de desviar o olhar. Sinto-me mal pelo que fiz, disse, sinto-me mal pelo que sou. Tenho pena que não haja quem me conheça como só eu me conheço, apesar de haver quem me conheça tão bem como eu. Peço-te desculpa, e mais nada. Desculpa, desculpa, desculpa. Guarda a minha sorte por mim.<br />
<br />
<object width="250" height="40"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=31888609&style=metal&p=0" /><embed src="http://grooveshark.com/songWidget.swf" type="application/x-shockwave-flash" width="250" height="40" flashvars="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=31888609&style=metal&p=0" allowScriptAccess="always" wmode="window" /></object>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-17539977108276682612011-08-19T12:01:00.000-07:002011-08-19T12:02:46.760-07:00VoaPisou a tábua velha e podre. Fitou o comboio enquanto ele se aproximava. <br />
<br />
António conhecia o Silva. O Silva não o conhecia a ele.<br />
A corrida começava à hora marcada, como era hábito do estabelecimento. "Pontualidade, Segurança e Felicidade", estava escrito numa placa de plástico que se encontrava pendurada a um palmo da porta, na parede, de um branco por vezes escuro, e muitas vezes brilhante.<br />
Os cães começam a correr assim que o tiro é disparado, as portas dos compartimentos claustrofóbicos em área, mas estranhamente arejados, abrem-se, e uma espécie de lebre robótica é projectada do lado esquerdo da pista a uma velocidade aparentemente excessiva.<br />
O espectáculo atrai algumas dezenas de pessoas, apostadores. Longe vão os tempos em que o negócio rendia centenas de espectadores, milhares de dólares por ano.<br />
"São Galgos!"<br />
"Perdão?"<br />
"Os cães. São Galgos."<br />
António sorria, enquanto contava a curiosidade em inglês.<br />
"Ah..."<br />
"Ingleses. Galgos ingleses."<br />
"Pois."<br />
Durante uns momentos permaneceram calados, a ouvir o som ambiente. Era desagradável.<br />
"Isto é uma tradição inglesa, sabe?"<br />
"Pois."<br />
"Surgiu quando..."<br />
"Olhe, amigo, eu tenho de ir andando. Com licença."<br />
"Sim, claro." <br />
A corrida acaba cedo para quem não sabe correr.<br />
António voltava todos os dias cabisbaixo para casa. Conhecia o caminho de cor.<br />
Quando chegava ao pequeno apartamento que tinha nos arredores da cidade americana que o acolhera quando abandonou a família, o país, e a nacionalidade, a primeira coisa que fazia era tomar um duche, vestir a roupa de Domingo, e ligar o computador. Tinha de falar com a família.<br />
"Olá querido!"<br />
Ah, sabe bem ouvir falar a nossa língua.<br />
"Olá, as crianças?"<br />
"Não estão. Foram para casa do Francisco, vão lá passar o dia. Mandam muito beijinhos!"<br />
"Ah... Eles são os maiores. Manda um grande abraço para eles."<br />
"Então e o trabalho? Como tem corrido?"<br />
"Bem. Cheguei agora. Sabes como é, reunião atrás de reunião. Enfim, consegue ser cansativo."<br />
"Sim, mas já está a acabar, não? Era temporário, não era?"<br />
"E é, e é. Mas vou ter de ficar mais uns tempos. Eles precisam de mim mais uns tempos."<br />
Olham-se a partir do ecrã do computador, e uma webcam barata. Durante uns instantes ficam calados. Ouve-se uma ambulância passar na rua.<br />
"Têm recebido o dinheiro que vos mando?"<br />
"Sim, temos. Obrigado, querido."<br />
"Tem chegado?"<br />
"Sim, ainda é bastante."<br />
Calam-se durante um bocado.<br />
"Gosto muito te ti."<br />
"Eu também."<br />
"Tenho saudades tuas."<br />
"Também eu."<br />
Três anos passam num instante. <br />
"Adeus."<br />
"Adeus."<br />
Adeus. (Aqui podem meter esta música a tocar: <a href="http://youtu.be/HuaGNMjxz08">Escolham a opção de abrir numa outra página ou separador.</a>)<br />
Fechou o portátil. Levantou-se e despiu a roupa, arrumou tudo.<br />
Estava sozinho.<br />
Chorou. Mais uma vez.<br />
Escreveu de novo a última carta da sua vida. Deixou-a na mesa de cabeceira.<br />
Deitou-se de boxers, com a persiana meia corrida, permitindo que o quarto se enchesse de estrelas formadas pela luz que vinha da rua, e apenas penetrava na casa a partir das pequenas aberturas da estrutura de plástico branco mal fechada.<br />
Respirou fundo. Adormeceu. <br />
<span style="font-size: x-large;">.</span><br />
<br />
O despertador tocou. Eram cinco e trinta da manhã.<br />
António levantou-se, preguiçoso, e bufando algumas vezes. Foi à casa de banho, lavou a cara. Abriu a janela do quarto. O sol estava a nascer. Arrumou os lençóis da cama. Foi à cozinha. Abriu a porta do frigorífico velho. Tirou a garrafa do leite, serviu um copo. Bebeu o leite, em goles lentos, pausados, como se estivesse a comer um banquete líquido. Baixou o copo deixando que a base assentasse na madeira da mesa. Fitou o copo vazio, avaliando o movimento do leite residual que insistiu em ficar agarrado à parede do copo. Arrumou tudo. Voltou ao quarto, vestiu umas calças que pareciam demasiado gastas, e uma camisola de mangas cavadas branca, com manchas de suor. Ao sair de casa agarrou no casaco. Vestiu-o.<br />
O carro estava longe. E, ao início do dia, a temperatura ainda é de noite.<br />
Ligou o carro e avançou.<br />
Quando chegou à obra já haviam chegado os seus colegas todos. Cada um levantando na mão esquerda o capacete branco, pintado de vermelho com spray. Saiu do carro, com o capacete numa mão, e na outra uma caixa metálica, onde tinha o almoço, que era uma sanduíche de queijo.Olhou os colegas. Eles faziam cânticos com um ritmo batido de protesto. Aproximou-se, com receio e estranheza, e num instante viu tudo o que construiu cair, como um castelo de cartas quando alguém sopra. Tentou fugir das câmaras de televisão que ali estavam a cobrir o momento. Agarrou um colega pelo braço, puxou-o.<br />
"O que é que se passa?"<br />
"Estamos a lutar pelos nossos direitos, Anthony!"<br />
"Que direitos?"<br />
"Anthony, somos pessoas. Temos direitos!" <br />
António olhou-o nos olhos, como se aquele que o fita lhe afundasse uma faca na barriga. Olhou depois para o céu. Estava prestes a começar de chover.<br />
Alguém lhe pinta o capacete de vermelho, sem ele querer, pintando também um pouco a mão e estragando a roupa com tinta de spray. António reage com um movimento repentino, agarrando esse alguém pelo pescoço. Atira-o para o chão num movimento carregado de fúria.<br />
"Anthony, estás bem?"<br />
"Parem com isto!"<br />
"Anthony, calma!"<br />
Neste momento, há uma explosão na obra, seguida de uma derrocada.<br />
"Nós vamos parar à cadeia!"<br />
"Cala-te!"<br />
António corre para o carro. Liga-o. Vai para casa.<br />
Em casa, apanha apenas a carta. O resto que fique com quem o trouxe.<br />
Começou por fugir do país, agora fugia de si mesmo.<br />
Foi para um novo começo. E acabou onde havia começado, em casa. Portugal.<br />
Fez questão de visitar a família, para ver quem lá estava.<br />
Tocou. Será que eles o iam reconhecer? Tinha mudado desde a última vez que o tinham visto.<br />
A porta abriu-se. Era um homem.<br />
"Boa tarde, posso ajudar?"<br />
António Silva. Português. Foi para os Estados Unidos, criando a ilusão de um convite promissor, numa firma famosa.<br />
"Posso ajudar?"<br />
Engolia agora em seco. O seu substituto abria-lhe a porta?<br />
Fez duas tentativas para iniciar o discurso mas as palavras não lhe saiam da boca.<br />
"Sim." Estava rouco.<br />
"Então?"<br />
Abriu a mochila. Tirou de lá o envelope, com a sua última última carta.<br />
"Procuro pela Ana Simões."<br />
"Sim, é aqui."<br />
"Ela está?"<br />
"Sim. Quer que a chame?"<br />
"Não! Entregue-lhe isto."<br />
"O que é?"<br />
"Diga-lhe que é de alguém que lhe quer bem."<br />
"Quem?"<br />
"Alguém que conheci nos Estados Unidos."<br />
Houve uma pausa. Quando a mentira que mantemos ganha corpo, passamos a ser nós a única mentira.<br />
"Senhor António?"<br />
Ele começava agora a lacrimejar.<br />
"Dê-lha, por favor."<br />
"Quem é o senhor?"<br />
António limitou-se a olhar o outro nos olhos, como se lhe pedisse esmola.<br />
Virou costas. Respirou fundo. Saiu.<br />
O homem entrou para dentro de casa.<br />
"Dona Ana!"<br />
"Sim?"<br />
"Esteve aqui um homem, deixou isto para si."<br />
"O que é?"<br />
"Diz que é de alguém que lhe quer bem, nos Estados Unidos."<br />
"Nos Estados Unidos?"<br />
"Sim."<br />
A mulher apressou-se. Abriu a carta, datada de há um ano, rapidamente. Tirou o conteúdo e leu.<br />
Correu para a rua, empurrando o rapaz que lhe tratava do jardim do caminho.<br />
Da porta, procurou, e correu para o passeio.<br />
"António!"<br />
<br />
António ouviu o grito da mulher.<br />
Pisou a tábua velha e podre. Fitou o comboio enquanto ele se aproximava. Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-3801613823282106002011-08-03T12:47:00.000-07:002011-08-03T12:52:08.251-07:00<iframe width="425" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/99GyFmnH59s" frameborder="0" allowfullscreen></iframe><br />
<br />
"Olá."<br />
Neste momento, confesso, estou a sentir um vazio imenso. Talvez isso se deva ao facto de estar a ouvir esta música. Estou a ouvi-la porque pensei que talvez me inspirasse para escrever alguma coisa. A verdade é que não inspirou. Em vez disso, fez-me recuar no tempo. Fez-me sentir um vazio. A verdade é que as pessoas fazem falta. Provocam saudade, mesmo quando não existem. E eu vejo-me como uma pessoa muito solitária. Isso não pode ser saudável. O que eu queria mesmo era pegar na mochila e fugir. O que eu queria mesmo era mudar a minha maneira de ser. O que eu queria mesmo era não me apaixonar tão facilmente. É muito fácil apaixonar-me. Apaixono-me muitas vezes. E iludo-me. E acabo por me magoar sem razão. Era escusado.<br />
Considero que o Verão passado foi o Verão mais criativo que já tive, acho que foi o Verão mais inteligente e inspirador de todos os Verões. Dessa altura, e de outras, guardei vários blocos de notas e folhas soltas, ou mesmo pedaço de folhas, que guardo numa caixa. No outro dia abri-a. Entre pensamentos e filosofias, textos dramáticos, contos, poemas, rabiscos, e tudo o que é possível fazer numa folha, encontrei uma frase. "Diz não ao amor". Como disse, foi o Verão mais inteligente, e acrescento, genial que já tive. Não sou pessoa de me arrepender, por isso, só me arrependo de uma coisa. Amar, sem ser amado. Porque eu sei que sou feio, chato e desinteressante, que o sexo feminino é complicado e difícil de compreender, e que o Homem é simples e estúpido.<br />
Desculpem a divagação. Tudo se resume à minha falta de coragem. Gostava de dizer que te amo, e de te escrever canções de amor, e levar-te a fazer um pique-nique, à beira do rio, mas nunca disse o que devia dizer, e talvez seja tarde agora.Unknownnoreply@blogger.com24tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-80893245289999852062011-07-20T10:38:00.000-07:002011-07-20T14:19:04.691-07:00Diálogo 1 - O canto dos pássaros<i> (Vou publicar no blogue uma série de diálogos que me ocorram. Sem descrição do local, nem definições das personagens, para que a experiência seja nova e original para cada um dos leitores. Espero que gostem, e que opinem!)</i><br />
<br />
<br />
Ei! Estás a ouvir-me?<br />
Sim.<br />
<i>(Com um sorriso)</i> Ouvi um pássaro cantar.<br />
O quê?<br />
<i>(Olham-se, ainda deitados, em silêncio.)</i><br />
Um pássaro?<br />
Sim.<br />
Agora?<br />
Sim.<br />
Onde?<br />
Lá fora.<br />
Sabes o que é que isso quer dizer?<br />
Sei...<br />
<i>(Ele ri, silenciosamente. O outro também.)</i><br />
Estamos salvos?<br />
Não. Tens a certeza de que ouviste um pássaro cantar?<br />
Absoluta.<br />
<i>(Silêncio.)</i><br />
Já nem me lembro como é que eles são.<br />
São bonitos.<br />
Sim, eu sei. <br />
Alguma vez olhaste bem para um pássaro?<br />
Não sei.<br />
Eles têm o Universo nos olhos.<br />
É?<br />
É.<br />
Porquê?<br />
Porque não sabem a nada.<br />
Os olhos?<br />
Sim.<br />
Não sabem a nada?<br />
Não.<br />
Porquê?<br />
Olhas para lá, e não vês nada a não ser o teu reflexo. E isso quer dizer que o que eles sentem é o que tu estás a sentir, porque te vês a ti. E isso não sabe a nada, porque já o sentes. Eles não te trazem nada de novo. Como o Universo. Só nos ensinam o que nós já sabemos, e que nos recusamos a ver. Só nos fazem olhar mais para nós.<br />
Será que eles se vêem nos meus olhos?<br />
<i>(Pausa.)</i><br />
Não há som mais bonito que o canto dos pássaros.<br />
Estão a falar, lá fora?<br />
<i>(Calam-se.)</i><br />
Sim.<br />
Consegues perceber o que eles dizem?<br />
<i>(Pausa.)</i><br />
Parece que já chegámos..<br />
Mas ainda se sente ondulação. <br />
Eles devem-nos querer enviar em grupos. Nos botes. Acorda os outros, chegou o dia.<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/5xRBSIPA2j0?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-69700641429122444162011-07-19T09:34:00.000-07:002011-07-19T09:35:06.454-07:00Ontem fui ao Porto. E mesmo no meio de uma viagem traumatizante, vi algo que gostaria de partilhar.<br />
Saí de Viseu bastante cedo, eram sete horas. Sabia que ainda tinha muito tempo até começarem as provas na escola, mas mais vale prevenir que remediar, e os autocarros têm um certo prazer especial em chegar atrasados. Mas cá estamos nós para contrariar a rotina, e o autocarro adiantou! Cheguei ao Porto às oito e meia, pouco mais. A estação da Batalha faz jus ao nome, não? Eu vi-me um bocado perdido na quantidade de manobras feitas pelo motorista do autocarro, e pela excessiva confusão na garagem. Saí da gruta urbana, e pisei o passeio da rua. Cortei à direita. Passei por uma série de cafés cheios e quiosques com as revistas e os jornais a forrarem suportes metálicos com o que de pior se faz neste mundo (porque o bom não precisa de ser noticiado, aparentemente). Cumprimentei o Teatro Nacional, e segui pela Rua da Santa Catarina. Confesso que não sou apaixonado pelo Porto, mas pelas pessoas (algumas, vá) de lá. Nesta rua, às nove menos qualquer coisa da manhã, com as pessoas mais concentradas nos seus pensamentos do que no que as rodeia, num silêncio que consome o barulho dos carros, tornando-os a eles silenciosos também, ouvi batidas no chão, que se repetiam com alguma frequência. Olhei, e vi um homem que apalpava terreno com uma vara comprida, que lhe substituía os olhos. Ao lado dele, um pouco atrás, ia uma senhora, que lhe agarrava ao cotovelo, também ela a ser guiada. Ele era os olhos dela. Achei a imagem bonita, dependiam um do outro. Não sei sequer se se conheciam, mas quero acreditar que se amavam um ao outro, que dependiam um do outro. Torna a coisa mais romântica. Infelizmente, a expressão na cara deles não era diferente da dos outros que os rodeavam. <br />
Há algum mal em sorrir quando andamos sozinhos na rua? É que eu faço isso...<br />
<div style="text-align: center;"><br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/acnvPtdS-5Y" width="425"></iframe></div>Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-4584217745036304332011-07-12T02:51:00.000-07:002011-07-12T02:54:20.894-07:00PTT<iframe width="425" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/tp1R5CRu0bM" frameborder="0" allowfullscreen></iframe><br />
<br />
<i>Escrevi isto há uns meses, mesmo antes de passar na televisão, sobre o </i>Portugal tem Talento<i>. </i><br />
<br />
Quando estamos a ir para lá há um certo nervosismo, ansiedade, medo. Quando lá chegamos, não conhecemos ninguém, somos estrangeiros, e eles também. Mas começamos logo a falar com os outros. A pergunta mais frequente é "O que vais fazer?". Mas estamos felizes por estar ali, com aquelas pessoas que não conhecemos, ou preferimos nem conhecer por algum motivo. Ligam-se os holofotes, os homens que carregam uns instrumentos de captação de imagem relativamente grandes começam a aparecer, sempre acompanhados por uma equipa onde as tarefas são muitas. Pessoas que fazem a grande parte do trabalho e que não podem dar a cara, a que chamam produção. A certa altura começamos a gravar cenas na rua, entrevistas, gritos e aplausos. Depois do almoço, as audições começam. Um a um somos chamados por números. Um a um vimos os outros desaparecer. eventual e ocasionalmente ouvimos aplausos, a sala está cheia, ouvimos negas, ouvimos risos e sorrimos. Conhecemos talentos, e ganhamos amigos. O dia é longo e demora a passar. Vimos o dia nascer e, de certa maneira, morrer. Sofremos de uma apatia provocada por um dia expectante mas calmo, muito calmo... E ao fim de cerca de 14 horas de espera o nosso número é finalmente chamado. O nervoso desvaneceu, e transformou-se em cansaço. Descemos para uma sala de preparação, onde nos sentamos e esperamos para entrar no palco. A sala é pequena, com umas cadeiras pretas e uma luz muito branca. Há uma câmara que nos filma, e a conversa serve para descontrair. O rapaz que vai à nossa frente foi a primeira pessoa com quem falámos quando chegámos, e quando a senhora da produção o chama, ele levanta-se e é engolido por um grupo de 3 ou 4 pessoas vestidas de preto, que o levam para o palco. "Boa sorte!" é a última coisa que lhe dizemos. E eventualmente chega a nossa vez. Somos também nós engolidos pelos de negro, que nos levam para o palco. Aqui o ritmo acelera. Passam-nos de mãos em mãos até chegarmos às do director artístico do programa que nos fala um pouco, não me lembro o quê, mas algo para nos encorajar. Depois os técnicos de som que nos perguntam que microfone vamos usar. Do nada uma senhora passa-nos uma espécie de vassoura muito macia e aberta na cara, larga um pó. Ao mesmo tempo, e sem nos mexermos, os técnicos de som instalam o microfone. Conseguimos ouvir a apresentação do participante a decorrer do outro lado das cortinas opacas pintadas de preto. Num instante estamos prontos para entrar em cena, mas temos de esperar. Há um momento de calma, e ouvimos as negas do júri. O directos do programa fala mais um pouco connosco, nada de especial, só para aumentar a moral. Não podemos ver o outro concorrente mas sofremos com ele. E do nada ouvimos uma voz lá no fundo que diz "3,2,1", agarram-nos no braço e dizem muito rápido e baixinho "Vai ter com a Bárbara!", começamos a caminhar e vimos uma objectiva virada para nós, sobre ela uma luzinha vermelha. Falamos um pouco, declamamos um excerto de Florbela Espanca, e somos empurrados para o palco. Falamos com o júri, falamos bastante, apresentamos o nosso número, ouvimos o júri, passamos. Voltamos a ter com a Bárbara, e pronto. Valeu!<br />
<br />
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<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Monólogo do autocarro</span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><i><span style="font-family: "Cambria","serif";">Isto passa-se numa espécie de hospital, num tempo incerto. O texto é dito com vários ritmos diferentes, e com muitas pausas e apartes. Baseado na obra "O Encarregado", de Harold Pinter. Escrito no início da viagem de autocarro que me trazia de Lisboa para Viseu, com paragem em Coimbra. </span></i><b><span style="font-family: "Cambria","serif";"><br />
</span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Miguel </span></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(visivelmente perturbado)</span></i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"> </span></b><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Conheci um rapaz, uma vez, que era manco. Tinham-lhe feito uma operação mal acabada, e ele acabou por ficar assim. Diziam que ele não tinha remédio. Pois, ele não, mas a perna tinha, foi o que eu disse. A perna vai para o lixo, disse eu. E ouvi alguém chamar-me louco, ou doido, ou qualquer coisa parecida. Mas sabem que temos de ter ouvidos selectivos. Ele chamou-me doido, mas mal sabia que mais tarde se ia fazer isso. Porque se fez. Eles vieram buscá-lo numa maca, quer dizer, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">(pausa) </i>ele já estava numa maca, e eles vieram buscá-la. Ou tiveram de o tirar? Pronto, eles vieram, assim brancos. Como a neve na torre da Serra da Estrela. Quer dizer, grande parte brancos, porque depois tinham outras cores, quer dizer, não é como se fossem bonecos de neve! E eles vieram, e apanharam-no a dormir. Eu sei, porque estava lá ao lado, na outra cama. Eles falavam baixinho, para não o acordar. Eu não achei bem, quer dizer, tirarem o homem dali sem o avisar. E gritei. Gritei assim, Ei! O que é que estão a fazer, hã?, e eles disseram-me para me calar, mas eu não me calei, e eles vinham para mim, e o homem não acordou, o que eu achei estranho, porque até veio uma enfermeira à porta, por isso o meu berro deve ter sido alto, quer dizer, eu sei que foi alto, porque tenho a noção das minhas capacidades. Mas eles vinham na minha direcção e eu ainda os tentei afastar com os braços, assim. E eles não pararam, agarraram-me dois ou três, e prenderam-me à cama, mas como eu não me calava eles deram-me uma injecção qualquer. Adormeci, e quando acordei já tinham deitado o homem na cama dele. Ele ainda estava a dormir, mas a mim pareceu-me mais moreno, se calhar porque não havia muita luz. Eu acho que ele era surfista. Mas eu levantei-me, quer dizer, para ver se ele estava bem, e cheguei-me perto dele, que estava coberto com uns lençóis brancos, como neve suja da estrada, e mandei a mão à ponta do lençol e… <i style="mso-bidi-font-style: normal;">(pausa)</i> E ele abriu os olhos, e gritou. Gritou muito, assim, AHH!! E eu assustei-me. E chegou uma enfermeira a correr pela porta a dentro, e eu olhei para ela, e ele perguntou o que é que eu estava a fazer, mas nem me deu tempo para responder, agarrou-me o braço, mas eu sou mais forte e consegui que ela não me tirasse do sítio, dei-lhe um empurrão, e ela foi a cair sem equilíbrio até à parede, bateu com a cabeça e desmaiou. E o homem continuava a gritar, e eu agarrei no lençol e baixei até aos pés… Quer dizer… Ao pé. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">(pausa)</i> Tinham-lhe cortado a perna, assim, aqui nesta zona mesmo acima do joelho. Ou mesmo no joelho, não sei, nunca soube muito de anatomia, e agora nem me lembro muito bem, porque estava escuro e sujo. Mas o corte estava mal feito, o instrumento que usaram não estava bem afiado. E a perna estava meia desfeita na zona do corte. E ainda não tinha cicatrizado, porque a ligadura do homem estava ensopada em sangue. Eu sei porque também tinha passado sangue para o colchão. Mas não estive muito tempo a olhar para ele porque chegaram muitos homens com seringas e coisas, e batas e tudo, e levaram-me para um sítio qualquer, e deram-me qualquer coisa, ou fizeram, não me lembro bem. Sei que já não me lembrava muito bem das coisas, nem de mim, nem sabia onde estava quando acordei. Ainda nem sei onde estou, mas prenderam-me aqui. Depois ouvi uma conversa de uns tipos. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">(pausa)</i> Bem, eu só espero que quando me cortarem a cabeça usem uma faca bem afiada.</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-3978827478745901542011-06-07T11:11:00.000-07:002011-06-07T11:11:52.189-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivgpu4dJB2HWlm3ebXqalIqb85YasXJmQ6VvG9FcwMvKnU2g5zn97fMwiN-J7MJYmMxQj8bPDse_CgBryz-soT94ljzH4_o3DP8o9qbJPx1OmEqtEArNIxw0KyBSjd75443LVoZeMNhqI/s1600/DSC_0050.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivgpu4dJB2HWlm3ebXqalIqb85YasXJmQ6VvG9FcwMvKnU2g5zn97fMwiN-J7MJYmMxQj8bPDse_CgBryz-soT94ljzH4_o3DP8o9qbJPx1OmEqtEArNIxw0KyBSjd75443LVoZeMNhqI/s320/DSC_0050.JPG" width="320" /></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-27402720835063764642011-04-15T00:55:00.000-07:002011-04-15T00:55:07.660-07:00<iframe title="YouTube video player" width="640" height="390" src="http://www.youtube.com/embed/JZRTpjlhVvA?hd=1" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-71125879069092168522011-03-03T06:50:00.000-08:002011-03-03T06:55:36.797-08:00Dó<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="25" src="http://www.youtube.com/embed/YaVE4WVlsDQ" title="YouTube video player" width="30"></iframe><br />
Agarravam-lhe os braços, não em jeito de obrigação, mas apoio. O homem moribundo que percorria aquele corredor de cores monótonas, tinha as roupas sujas, ele próprio estava sujo, era moreno, e tinha a barba por fazer. Estava magro. Não ia só, a procissão era formada por um padre, na frente, seguido do homem, que era apoiado por dois homens vestidos de igual, com algemas agarradas à cintura. Atrás deles ia outro de farda. O passo que tomavam era lento. O corredor era iluminado por várias lâmpadas compridas, que emitiam uma luz branca. Era estreito e longo. Todos sabiam para o que iam, e por isso é que o passo era lento. Queriam aproveitar a viagem para reflectir. Ao fundo deste túnel havia uma porta. Estava entreaberta, e não havia nenhuma luz acesa do outro lado. Mário. O seu nome era Mário. Estava preso, tinha sido acusado de um homicídio há umas décadas atrás. Vivia numa quinta, no interior, e durante uns dois anos foi assassinando um a um os seus conterrâneos. Encontraram alguns ossos no barracão onde mantinha os porcos, e desenterraram uns corpos decapitados do quintal. Na sala, havia um baú de metal fechado à chave. Quando o abriram encontraram as cabeças podres, mas com uma expressão estranhamente viva. Ele foi condenado à morte. Durante o tempo que demoraram a percorrer o corredor, ele não pensou nas vitimas do seu ataque. Não pensou na criança com sardas que chorou quando ele entrou pela casa com um machado. Pensou em si. E no que tinha feito. Do quanto se arrependia, e orgulhava. Trauteou a sua música favorita, sem abrir a boca. A meio do corredor, deixou-se levar completamente pelos guardas, quase como se já estivesse morto, deixando arrastar os pés descalços no chão áspero de cimento. A cabeça estava caída, mas os olhos continuavam abertos. Quando o padre chegou à porta, empurrou-a com a mão que não segurava o pequeno livro, olhou para trás, eles pararam todos. Fitou o prisioneiro, e ele também olhou para cima, fitando o padre, e tentando olhá-lo nos olhos. Depois de uma pequena pausa, o padre entrou para a sala e acendeu as luzes. Mário conseguiu ver uma cadeira, mais ou menos como as dos dentistas, mas mais feia. E explodiu em espasmos e contra-espasmos. Gritou, mordeu os guardas , rasgou as roupas. Só acalmou quando levou um tiro eléctrico do guarda que ia atrás. E foi semi-nu para a cadeira. O padre, fitava-os durante o ritual que prende o homem à máquina de morte. Quando terminaram, o padre acercou-se de Mário, que ainda tinha a boca destapada, mas já não gritava. Leu uma passagem da Bíblia, e perguntou ao condenado se queria dizer alguma coisa. Mário olhou para o velho de cabelos brancos, claramente bem alimentado, e acenou que sim com a cabeça. Pediu música. Queria morrer a ouvir música. O padre olhou para os guardas, encolheu os ombros. Os guardas olharam-se. Então um deles saca o telemóvel do bolso, e põe a reproduzir uma música calma. Mário fechou os olhos, e acenou que sim com a cabeça. Levou um banho de água benta, e uma injecção final. E foi com um sorriso que deixou de respirar.Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-41410582886127473922011-02-26T02:10:00.001-08:002011-02-26T02:10:53.835-08:00<div style="text-align: center;"><br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/dnULR1hY_J0" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7689224911388034207.post-6992012623603558322011-02-25T15:54:00.000-08:002011-02-25T15:54:58.033-08:00Chá|Eu|PANOSExistem em Viseu uma série de locais onde podemos adquirir chá, para levar ou mesmo saborear no local.<br />
No entanto, descobri um café muito engraçado que vende <i>capuccinos</i> muito bonitinhos.<br />
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E então, vamos a um chápuccino?<br />
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(e descobri o quão parecido soa "chá" com "já", lol)<br />
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E como o que está acima é, aparentemente, estúpido e sem sentido, vou continuar com alguma coisa que surja, mas que pode não estar directamente relacionado com aquilo.<br />
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Não gosto de me conformar. Gosto de procurar, e continuar a procurar. Não tenho de encontrar necessariamente, sinto-me bem na procura. E é também por isso que quero ser actor, porque gosto de descobrir, experimentar, saber fazer tudo sem saber nada. E assim sou feliz. Mais tarde digo-te o que penso sobre ti, se o quiseres saber, claro. Como actor, sou como o Álvaro de Campos, na fase do meio, em que experimenta todo o tipo de sentimento como se não houvesse amanhã! E gosto disso, baby! Gosto disso...<br />
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Foi giro?<br />
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Lembrei-me agora de partilhar uma coisa convosco.<br />
Para o PANOS, o Graeme pediu que escrevêssemos qualquer coisa sobre o Amanhã. Como não sou uma pessoa séria, escrevi isto:<br />
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A, MA, NHÃ<br />
NHÃ, MA, A<br />
MA, A, NHÃ<br />
NHÃ, A, MA<br />
Parágrafo,<br />
Caneta, papel, papel, dinheiro, dinheiro, moeda, tesouro, riqueza, saúde, morte, felicidade, meeeeeeerda!<br />
Gosto de morangos, NHÃ<br />
Polícia, bombeiros, A<br />
Amor, sexo, sexo, amor, sexo, MA<br />
Comida, dormida, hotel, curso, viagem, sofrimento, prazer, cansaço<br />
Vírgula<br />
Canoa, mulher, barco, barca, gala, sentimento, pintura, teatro, mar, oceano. Sereia, penteia, canção, música, violino, verão, violeta, violenta.<br />
De pé, sentado, dividido, deitado, morto.<br />
Ponto final<br />
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Fim<br />
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P.S.: Foi fixeUnknownnoreply@blogger.com2