terça-feira, 26 de outubro de 2010

Agora a sério

Bom, desta vez vou tentar ser objectivo e directo.

Falemos de amor (para variar um bocadinho! xD)

O que se passa é o seguinte,
Não me interessa quem lê isto, não me interessa se gostam ou não gostam.
Só podem dar uma sugestão no final, mesmo que em anónimo, sobre este ou qualquer outro assunto.

(E com isto já me perdi.)

Mas continuando.
O que se passa é que eu não sei.

Aliás... Sei!
Sei que gosto de uma moça (naturalmente). 
E isso deixa-me desconfortável.
Não que eu não goste de gostar de moças, que gosto (e muito), mas porque não me consigo concentrar naquilo que queria. 

 O amor é para aqueles que gostam de sofrer. Totalmente. Não é?
Porque se repararem, antes da conquista vem o sofrimento.
Para ti, apaixonado(a), isto é para ti que lês isto (coitados, não devem ter que fazer), nunca passaste uma noite em branco a pensar nela (ou nele (ou em mim!!xD))? Nunca não pensaste em mais nada? Nunca desejaste ter tudo para lhe dar?
Já, naturalmente.
(quer dizer, o último não sei)

Mas o que eu quero dizer é isto:
Eu gosto dela, mas não sou estúpido.
(ou sou muito estúpido)
E já percebi que ela não gosta de mim.
Achava que sim, mas não.
É... Sou (muito) estúpido.
Cromo!


(eu estou a escrever isto à medida que me vou lembrando, por isso se estiverem confusos, vão para a parte final... Ou habituem-se!)

E eu não sei o que fazer.
Porque já senti tudo o que escrevi acima por esta pessoa. 
(Bolas!)
E é chato, faz uma impressão no peito. 
E isto não é figurativo, faz mesmo, não sei se já o sentiram também.
Parece que o coração acelera e abranda ao mesmo tempo.

Mas continuando, senhores e senhoras doutores(as) psicólogos(as)...
Eu tenho a noção que sou feio. Sim. Faço umas caras esquisitas, tenho o cabelo sempre por pentear, ou mal penteado. SIM. E posso parecer chato (e sê-lo mesmo).
Mas... Oh boa.. mas nada.
(isto também confunde, né?)

"Amo-te" é uma palavra muito forte, que nunca disse a ninguém. Mas acho que era capaz de dizer a menina em questão.
Não vos digo quem é a moça, para proteger a sua privacidade.
(e não me comprometer)

E pronto...
É isto.

Espero que tenham gostado deste desabafo.
Agora vou ler o que escrevi... 

Entretanto, se quiserem, podem ajudar aqui o pobre coitado com alguns comentários sobre como fazer pão-de-ló, ou assim. Ou mesmo sobre o que escrevi.
Agora vou mudar só um bocadinho as regras,
Porque a minha dúvida é se vale a pena lutar, se fique quieto, ou até se estou melhor sozinho..
(muito francamente, acho que a última é a mais verdadeira.)

E as regras.
Seleccionar 
"Sim Guilhas Gostei" significa "Vai-te a ela Guilhas, porque não? Quem sabe não só és estúpido, como também és burro e estás enganado!"
"Não Guilhas Não Gostei" significa "Sim, Guilhas, acho melhor ficares quietinho, porque não vais a lado nenhum!"
Se não for isto que me querem dizer, podem sempre comentar (até em anónimo).

Obrigado por lerem,
GG

Chatice!

Havia um menino (ele vivia numa sala escura) que viu um feixe de luz a sair de uma porta. Acho que deveria encontrar detrás daquela porta algo maravilhoso. Contemplou o feixe por uns momentos, e depois, receosamente decidiu avançar. Descobrir o lado de lá. Ver se vale a pena. Avançou. Achou que ia encontrar o sol. Que ia encontrar árvores, flores. Que ia encontrar a Natureza. Que a ia encontrar. Que ia poder correr livremente. Que ia finalmente conhecer o que achava impossível de alcançar. E então abriu um pouco mais a porta. E o feixe que parecia forte, belo, intenso, não passava do reflexo que a luz que passava por uma janela translúcida a tender para o opaco fazia ao encontrar a parede cinzenta. Foi iludido. Não encontrou nada de novo, e ao fim de algum tempo, voltaram a fechar a janela.
Valeu a pena? Sim, agora não voltaria a entrar na sala. Não voltaria a ser iludido. Não voltaria a aumentar as suas esperanças.

Deixara de acreditar.
E com ele, eu também.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sinto-me apenas mais um.

Qual é o objectivo de amar uma eterna apaixonada? (O mesmo se aplica às mulheres!)
Não vale a pena, digo-vos já. Isto porquê? Porque ama, desama e passa. (muito provavelmente)
Por isso é essa a mensagem que vos quero transmitir.
Concordam? Com o quê? É que eu não percebo o que escrevi...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Livre




"Morra o Dantas, morra! (pausa) Pim!"O público, um grupo de amigos, fica boquiaberto a olhá-lo. Estavam na sala sentados num sofá, José estava de pé, em frente a eles. Não eram muitos, quatro, para ser preciso.
E um deles avança.
"José, não achas que isso pode ser um bocado violento?"
"Violento? Ninguém é obrigado a ler isto. Eu escrevo o que me apetece! Além disso ele falou mal da nossa revista primeiro."
"Sim, claro... E o que pensas fazer com ele? Vais publicar?"
"É um panfleto, Fernando."
"Pois... Mas na minha opinião devias rever o texto!"
Outro, que estava sentado ao lado de Fernando.
"Sim, José, acho que o Fernando tem razão."
Outro ainda.
"Não tem nada. Ò Pessoa, o homem escreve o que lhe apetece!"
"Desculpa, mas eu também tenho direito a expressar a minha opinião." Respondeu Pessoa "Tu é que sabes o que fazer com isso, José! Mas não o vais relacionar com a Orpheu, pois não?"
"Não, não... É claro que as pessoas vão associar à revista, e que ela está na origem do texto..."
"Sim, mas eu não quero ter nada a ver com isso!"
"Ò Sá-Carneiro, mas qual é o problema? Tens medo do Dantas, é?" Ri.
"Vá, Eduardo, não é preciso exagerar!", advertiu Almada Negreiros.
"Só não quero que te aconteça nada..."
"Não te preocupes, Fernando."


A sala estava espessa de fumo. Eram poucos mas fumavam todos. Na sala estavam os principais colaboradores da Revista Orpheu. Tinham todos um objectivo em comum, mas opiniões diferentes. Almada Negreiros sentia que podia dizer o que quisesse, ninguém o tinha de ouvir, ninguém o tinha que julgar. Eduardo Viana concordava com Negreiros, apesar de ser mais discreto (em tudo), e tratava todos pelo último nome. Pessoa era revolucionário.... No pensamento, na vida real era muito tímido, educado (disciplinado pode ser a palavra mais certa) e por vezes podia parecer arrogante. Sá-carneiro era, basicamente, infeliz. Pouco falava, gostava mais de escrever as suas ideias que dizê-las em voz alta.
Quando os outros se foram embora, Almada Negreiros ficou sozinho em casa. A sala estava desarrumada, os cinzeiros cheios e o cheiro era quase insuportável, mas José não se preocupou em arrumar nada. Agarrou no seu "Manifesto Anti-Dantas" e sentou-se no chão da sala, sobre um tapete grande e avermelhado. Agarrou num lápis e desenhou o projecto do panfleto. No dia seguinte ia mandar copiar e então trataria da distribuição. Não seria difícil distribuir um panfleto tão polémico.
"Ainda hão-de falar muito em ti!" sussurrou, sorrindo, para o papel riscado a lápis e caneta, onde tinha escrito o manifesto.


Acordou com alguém a bater à porta. Tinha adormecido no chão da sala. Levantou-se e abriu a porta. Era a vizinha.
"Bom dia dona Amélia." A sua voz estava excessivamente grossa por ter acordado ainda agora.
"Bom dia Senhor José."
"Então, do que precisa?"
"Preciso que faça menos barulho à noite! Ontem era perto da meia-noite quando os seu amiguinhos saíram de sua casa, e fizeram, perdoe-me, mas fizeram muito barulho!"
A velhota, meia gorda irritava Almada Negreiros quando se referia aos seus colegas daquela maneira.
"Dona Amélia, não são amiguinhos, são grandes companheiros, e ilustres pessoas! E peço desculpa pelo ba..."
"Ah! Ilustres! São uma cambada de bêbedos, José! E fumam muito, isso só pode fazer mal! Cheira-se no prédio todo!"
Negreiros respira fundo.
"Sim, pois..." Esfrega os olhos " Mas se não se importa, eu tenho que fazer!"
"Muito bem, mas que não se volte a repetir!"

Almada fecha a porta, despedindo-se.
Abriu as janelas. Estava frio hoje. Debruçou-se sobre o parapeito da janela e olhou para baixo. Dava para um pátio sem interesse, mas Almada agarrou no bloco de folhas brancas e, com um lápis, começou a esboçar um desenho. Entretanto o sino da igreja, perto de sua casa, dá as horas. Eram onze. Tinha adormecido. Era tarde. Largou o bloco no chão, agarrou num casaco, penteou-se à pressa, pegou no manifesto e saiu de casa. Mal fecha a porta repara que se esqueceu de meter as chaves no bolso. Teria de pedir à chata da Amélia para lhe dar as suplentes que ela guarda. Mas, ignorando o facto de que estava preso fora de casa, avança, a correr, para a rua.
Teria de ir à tipografia que ficava na Rua Augusta. Não gostava de movimento, mas era o sítio onde lhe faziam o trabalho mais depressa e barato. Com sorte ainda encontrava Fernando Pessoa no Martinho d'Arcada.
No meio da multidão que andava na rua nessa altura, José destacava-se. Tinha o cabelo todo desalinhado, apesar de se ter penteado, e usava uma camisa com um padrão em losangos amarelos, as calças eram verde escuro.
Na tipografia disseram-lhe para passar lá por volta das quatro da tarde, o que era óptimo. Mas agora estava na hora do almoço, Pessoa estaria de certeza numa taberna ou num café algures por aqui. Experimentou o Martinho, mas Fernando não estava lá. Foi de porta em porta pelas tascas da zona, até se lembrar da Brasileira, no Chiado. Dirigiu-se para lá. Pessoa não estava na Brasileira. Na realidade estava em frente à estátua do "Chiado", completamente bêbedo, a discutir com o poeta que era conhecido pelo nome da zona onde morou grande parte da sua vida.

"Tu não és o Chiado! Tu és o António Ribeiro, malandro! O verdadeiro Chiado era muito mais útil que tu! Sabes quem foi? Sabes?" Cala-se, esperando uma resposta da estátua de bronze "Pois... Não sabes! Ele... Ele era o, o... O dono daqueles armazéns!" Aponta para os armazéns do chiadoSoluça "Tu achavas que tinhas piada, é o que é!"


Negreiros aproxima-se a passo acelerado de Pessoa.

"O que é que se passa?"
Pessoa está completamente alterado.
"José? Conheces o António?"
"Fernando, o que é que se passa?"
Pessoa começa a chorar.
"Matei-o!"
"Mataste-o? Quem?"
"O Mestre!"
"Mestre?"
"O Caeiro. Já não o vejo, acho que o matei!"
"Oh! Anda!" Agarra-o, despede-se da estátua levantando o chapéu "Já almoçaste?"
"Já..."
"O que é que comeste?"
"Comi? Eu não comi... Só bebi, José!"
José respira fundo. Nunca tinha visto o seu amigo assim.
"Aonde é que vamos?"
"Vamos para casa!"


Chegaram a casa de Fernando Pessoa. Não podiam ir para casa de Almada Negreiro, porque ele não tinha as chaves de casa, e não queria aturar a velhota. Quando bebia, Fernando ficava com sono. Por isso não demorou a adormecer. Almada aproveitou a sesta do amigo, escreveu-lhe um bilhete para o caso de acordarentretanto a dizer que tinha saído e levado as chaves de casa, ia almoçar.
O dia acabou por abrir, e a brisa já não estava tão fria. Almada esteve uma hora para almoçar e não saiu satisfeito. À saída do restaurante ainda encontrou um conhecido, e anunciou que havia novidades mais tarde.
Quando chegou a casa do Pessoa, o poeta ainda dormia, por isso recolheu o bilhete que tinha escrito e foi para a sala ler qualquer coisa. Eram duas e meia da tarde, ainda tinha tempo.
Havia umas cartas em cima de uma mesa alta no hall de entrada da casa. Estavam escritas em inglês, por isso pousou-as. Nunca gostou muito de línguas que não o português. Continuou, e foi para a sala. Pessoa tinha lá uns livros, pegou num e começou a lê-lo. Era sobre espiritismo. Pousou-o. Reparou que Pessoa tinha o cinzeiro cheio, pegou nele e lançou o lixo pela janela. Levantou-se e passeou pela sala. As paredes estavam um bocado vazias, talvez fizesse um quadro para oferecer ao Pessoa, uma pintura abstracta, ou até um retrato, mas nada vulgar. Tinha de pensar. Passou a mão pela máquina de escrever do amigo. Estava lá agarrada uma folha com um texto. Não era poesia. No topo dizia L. do D. Pensou que devia ser mais um heterónimo. Nunca tinha percebido essa história dos heterónimos. Pegou numa das folhas meias amareladasjunto máquina e tirou um lápis do bolso. Esboçou um possivel retrato de Fernando. Desenhou-o a caminhar, na rua. Não gostou do resultado final. Talvez o devesse sentar. No verso da folha desenhou Pessoa sentado, com uma caneta na mão. Em cima da mesa estava a Orpheu, e umas folhas. Não ficou convencido, mas guardou a folha, dobrada em quatro, no bolso. que estavam Nesse instante Pessoa entra pela sala a esfregar os olhos. 

"O... O que é que estás aqui a fazer?"
Estava com um hálito horrível. José ri-se.
"Olha, a salvar-te!
"Salvar-me?"
"Sim! É que o Chiado já estava a ficar aborrecido!"
"Como?"
"Nada... - Então, o que aconteceu ao Caeiro?"
"Não sei... Nunca mais o vi."
"Disseste que o mataste."
"Acho que sim."
"E estás bem?"
"Estou melhor que ele!"
Almada ri!
"Olha, esvaziei-te o cinzeiro, estava muito cheio."
"Onde é que deitaste as cinzas?"
"Pela janela."
"Ah! Não! Essa dá para a rua, José!"
"Epá, desculpa..."
"Não faz mal..." (silencio) "Ele estava muito cheio porque ontem ainda vim para cá com o Sá-Carneiro."
"Ai sim?"
"Sim.... Já imprimiste o manifesto?"
"Vou buscá-lo às quatro."
Pessoa faz uma careta.
"Tu é que sabes. O Mário esteve-me a dar uma novidade..."
"Então?"
Pessoa olha fixamente José.
"Ele vai para Paris."

(continua)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Leonardo

Quando somos crianças temos um  grupo, ao qual ensinamos coisas novas. Não sei se vos aconteceu, mas eu lembro-me de andar sempre com uma trupe atrás, e eu dizia-lhe coisas que tinha visto, coisas que me lembrava de fazer, e passávamos assim os tempos livres. Ora, na história mundial não faltam exemplos disso, especialmente na antiga Grécia.
Hoje escrevo, em particular, de um desses lideres de pequenos grupos (grupos que na linguagem corrente são de intelectuais). Um senhor chamado Leonardo.
A este ponto (se não leram o final, não se desgracem!) ainda não sabem se este Leonardo é real ou não.
Esse tal Leonardo nasceu numa terra pequena, com casas de pedra. Quando era pequeno, demonstrou ser muito inteligente e perspicaz. Esta segunda característica é, talvez, a mais importante: mais importante que um homem inteligente, é um homem perspicaz! 
E com o tempo se tornou homem. Um mestre dos sete ofícios. Fez de tudo, tudo. E por isso muitos eram os que o seguiam.
Mas havia um, Guilherme era o seu nome, e era o aprendiz de Leonardo.

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"Como?"
"Sim, bloqueios mentais."
"E o que é isso?"
"É perderes a capacidade de pensar!"
"Como é que isso é possível?"
"Então, é fácil de imaginares. Deixas de ser criativo."
"E quando é que isso acontece?"
Leonardo sorri.
"Quando estás apaixonado, Guilherme."
Guilherme baixa a cabeça. Caminhavam sobre um caminho de terra batida, e estavam rodeados por um descampado verde. Ao longe viam-se montanhas, e aqui e ali umas árvores.
"Pois..."
"Anima-te rapaz! Já pensaste no que seria se a criança decidisse não caminhar, porque sabe que um dia vai cair? Seria um caos! Ninguém levaria uma tarefa até ao fim, e éramos todos um simples grupo de mortais infelizes. Sim, porque é a ideia da morte, que nos tira a vontade de viver."
"Não percebo..."
"Guilherme, não podes desistir se não tentares. Percebes?"
"Sim, mas como é que isso se aplica a isto?"
"Isto o quê?"
"Eh... Esqueça, não devemos estar a falar da mesma coisa."
"Estamos sim, disso tenho a certeza!"
"Não sei..."
Leonardo pára, com esta observação de Guilherme. Tinham chegado ao pé de uma árvore que oferecia uma sombra não total.
"Guilherme"
O discípulo olhou.
"Senta-te."
Obedeceu. Obedeceu e ficou a olhar o seu mestre, professor da Vida, que levantado em frente dele lhe falava.
"Temos todos um objectivo na Vida. Uns querem perceber para que serve, outros querem simplesmente vivê-la sem pensar no que estão aqui a fazer. Mas durante este percurso, que é desde o ventre à cova, passamos por vários caminhos, Guilherme, caminhos que podem ser de terra batida, como este que percorríamos agora ou podem ser de pedra calcetada, como aquele que temos na nossa aldeia. Pensa neles como .estradas largas onde circulamos, mas não sós. Estás a perceber?"
"Sim."
"Boa! Agora vamos acrescentar duas muralhas, uma de cada lado da estrada. O único caminho que tens é esse onde estás."
"Estou a ver..."
"Óptimo! Agora... E aqui é que está o cerne da questão. Agora, imagina que te aparece uma linha de fogo, de uma margem à outra, não muito larga à tua frente, tu páras?"
"Paro... Uma linha de fogo, por mais fina que seja é um perigo!"
"Não! Guilherme, esse vai ser o mais pequeno grande obstáculo com que te vais deparar. Tens de o tentar ultrapassar, não sei, tentas saltar por cima, apagar o fogo. Mas acredita, mal superes este, serás capaz de o superar outra vez, este ou outros."
"Pois, não tinha pensado nisso.."
"E depois de o superares, imagina que te aparece um cão raivoso. O que fazes?"
"Corro!"
"Corres?"
"Sim."
"Mas assim ele segue-te, e como é mais rápido, apanha-te! Podes fugir, numa primeira fase, mas depois, tens de o matar, se não quiseres que ele te mate a ti."
"Ah..."
"E mesmo assim, se fugires, esse foi um obstáculo que te seguiu durante algum tempo e te fez perder algumas coisas. Correste no caminho, e por isso não desfrutaste dele. Mas depois de o matares, serás imune a esse tipo de problemas."
"Sim..."
"E então, o que se passa?"
Leonardo senta-se junto de Guilherme.
"Eu amo uma mulher."
"Isso é normal!", ri, "E ela não te ama, não é?"
"Não sei."
"Então? Ela sabe que a amas?"
"Não sei. Eu acho que sim, e que ela me ama também..."
"Mas disseste que não sabias..."
"Leonardo, eu não sei o que saber."
"Achar. Não sei o que achar."
"Sim."
Leonardo respira fundo.
" Então não lhe disseste que a amavas..."
"Não"
"E como achas que ela pode desconfiar?"
"Já posso ter dado a entender... O Leonardo sabe, com atitudes e comentários..."
"Mas costumam falar?"
"Não directamente, mais ou menos..."
"Olha, Guilherme, estás numa situação muito estúpida!"
"Desculpe?"
"Olha, tens de ver duas coisas. Primeiro tens de ver se ela merece o teu amor, depois, se ela o merecer, tens de a convencer a amar-te a ti, se é que isso já não acontece..."
"Ah.."
"Sabes, o amora não é inato. Uma pessoa não nasce a amar outra. Apaixona-se."
"Mas isto não me afecta o pensar?"
"A criatividade?"
"Sim, como dizia há pouco..."
"A situação em que estás, sim, deixa-te atrofiado!", ri mais uma vez.
Faz-se silêncio.
"E se ela diz que não?"
"Que não o quê?"
"Que não me ama."
"Mas foi isso que eu te disse, tens de a convencer!"
"Mas e se ela diz que não está disposta a amar-me?"
"Não merece o teu amor." (pausa) "E então, vais falar-lhe?"
"Eu não a conheço."
Leonardo riu.
"Nem nunca a vais conhecer..."

Nesse dia, depois de falarem, Leonardo foi para casa. Guilherme acompanhou-o. Na altura vivia em França, no solar Clos Lucé. Era Maio. Depois do jantar, Leonardo deitou-se na cama. Morreu durante a noite. Ficou recordado como o filho da sua terra, Anchiano, em Vinci, Itália. Morreu mas foi sempre recordado como Leonardo de(da) Vinci.


Razão porque escolhi a música: Gostei bastante, primeiro, da sonoridade, e depois porque a letra se encaixa no texto, falando de desencontros. Mais nada! :)