terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Me-ta-ar




O Sol estava no auge da sua magnitude. Fumava o seu charuto e bebia um scotch.

O elefante era cinzento, a sua sombra cobria uma grande área debaixo da sua barriga. Na realidade, as suas orelhas eram tão grandes como um gafanhoto com altura acima da média. As suas imponentes penas de pavão estavam eriçadas. Estava frio. Pousou a sua bolsa Louis Vuitton, abriu-a, e tirou de lá a tenda onde ia dormir esta noite. Tinha-se esquecido do cachecol em casa, por isso ligou para as nuvens a pedir auxílio, mas ninguém atendeu, porque estavam todos ocupados com o fondue de chocolate. Neste momento o elefante tem um dejavú, e aparece-lhe, saída de um coco das silvas, uma avestruz com pernas de Tina Turner. Era a avestruz mais bela da Lua e tinha os olhos mais bonitos. Tão bonitos que seria um crime não os poder ver. Curiosamente, a avestruz nunca os tinha visto. O elefante não era bom com as palavras. Pôs de lado a tromba e foi ter com a ave que neste momento estava a beber um batido de morango. O gigante olhou para a avestruz e no meio de tantos pensamentos apetrechados de asas o que se lembrou de dizer foi "hmmm... Isso parece ser saboroso!". A avestruz entendeu isto como um acto de carinho, uma tentativa de aproximação mal preparada e que poderia significar a morte do artista. Sabia que tinha na mão o poder de partir o coração deste bicho infinitamente maior que ela. Olhou para ele. Tentou decifrar-lhe o olhar. Tarefa difícil, pois os olhos dele pareciam duas pequenas, mesmo pequenas, borras de café. Perguntou-lhe o que queria. Ele disse-lhe que neste momento, queria beber um batido de framboesa e ficar a falar com ela e a olhar para ela durante a tarde toda, até a mãe o ir buscar. Ela sorriu. Tinha aparelho nos dentes. Atirou uma moeda para a jukebox e começou a tocar uma música longe de balada, convidou-o a sentar-se. Tirou um cigarro e começou a fumar. Chegou o batido para o elefante, ela pediu outro para ela. Olharam-se. "O que queres?", perguntou. "Amar-te.", respondeu-lhe. Com isto caiu um prato do balcão e a bola de espelhos partiu-se. "O que queres?", perguntou. "Amar-te.", respondeu. "Já viste os olhos bonitos que tens?" O que queres, "perguntou". "Não." Amar-te, "respondeu". "São muito bonitos." Amar-te-amar-te-amet-ar-mer-ta-mare-tare-etc. "São?" Sim. Se pudesse trocava de olhos contigo para os poderes ver. De repente, surge um sapo médico, com sapatos vintage. O tratamento é infinitivo. Como? Não podem voltar a trocar. Então não quero! "Quero eu!" Egoísta! Desculpa? É egoísta, quer fazer isto só para poder ver os seus olhos. "Quero fazer isto para ele ficar com eles." Porquê? "Porque gosta tanto." Mas eu sou míope. "Também não te quero muito longe." Sorriram. Diz? Vamos a isto? Sim. "Sim." ( - ) "Olá." Olá amora. "Amoras-me?" Claro. A mãe dele chegou.