terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Diamo-te

Capítulo I

O que é a vida sem amor?
O que é o Homem sem vida?

O que é o amor?

O café arrefecia na mesa. Estava calor, e o café fora servido num copo com gelo. Era assim que gostava de escrever no Verão, ao ar livre, com a inspiração a vir com o vento.
Diana, era jovem, não teria mais que vinte anos. Era escritora. Era discreta. Tinha os olhos cor de avelã, e usava uns óculos de massa  com poucas dioptrias. Era uma lutadora.
Na mesa de metal branca, o copo de café com gelo, contemplava uma cordilheira branca. Estava calor, mas a cordilheira mantinha-se branca. Diana estava dentro de casa a acabar de levantar a mesa. Tinha mais dificuldade em levantar a mesa, que em escrever um romance. Ela movimentava-se numa cadeira de rodas, tinha caído no poço da casa,, em que mora agora, há alguns anos e ficara com uma lesão grave na medula. Ganhou mais tempo para escrever, mas perdeu o que mais amava.
O telefone tocou.
"Sim?"
"Diana?"
"Sim."
"Olá, fala a Ana."
"Ah. Ana.."
"Então, tudo bem?"
"Sim."
"Olha, estou a ligar para saber como vai o novo romance."
"Está a correr bem."
Ainda não tinha pensado bem no que ia escrever, mas não faz mal, de vez em quando, mentir à editora.
"Óptimo! Então no dia 30 estará pronto?"
"Eh... Que dia é hoje?"
"Quinze."
Diana fez uma pausa. O gato estava em cima da mesa e a jarra das flores em eminência de queda.
"Sim, sim! Estará pronto." 
A resposta foi rápida. Nem se apercebera bem do que tinha aceite.
"Boa! Depois volto a ligar, sim?"
"Sim."
"Vá, beij..."
Diana teve de desligar o telefone. Mais um minuto longe e a jarra deixava de ser jarra para ser um aglomerado de cacos. Enxotou o felino da mesa, e foi para o alpendre, onde o café gelado a esperava. No colo levava um caderno e uma caneta. Encostou-se à mesa, pegou no material de escrita e depositou-o ao lado do copo, agarrou-o e cheirou o café. Respirou fundo, com os olhos fechados. Depois, parou e olhou para a montanha. Sempre achou engraçada esta visão. Parecia estar à mesma altura do pico mais alto, porque não precisava de olhar para cima para o ver, mas lá havia neve, aqui não.
Passava a maior parte das tardes assim. A olhar. Gostava de poder correr aquilo tudo. Passear. Mas a montanha não tem acesso a deficientes. Não tem de ter. O romance, parecia cada vez mais um problema. Não escrevera nada a tarde toda.
Faltava-lhe sempre alguma coisa.
A casa dava para uma estrada pouco frequentada, no cimo de um monte. Dava para ver a cidade mais próxima lá em baixo.
Diana respirou fundo. Era triste. Conduziu-se para dentro de casa. Deixou o caderno na mesa. Atirou a caneta para fora do alpendre. Fazia-o sempre, na esperança de que um dia as ia conseguir ir buscar.
Estava demasiado entediada para fazer o que quer que tivesse para fazer. Desligou as luzes, foi-se deitar.
Demorou. Demorava sempre, mas quando se encontrou na cama, não foi difícil adormecer. Talvez nos sonhos lhe viesse a inspiração.
Na estrada, ao longe, viam-se um par de luzes redondas, amareladas e pequenas. Aproximavam-se. Era um carro. O barulho do motor estava cada vez mais próximo. E, à porta de casa, parou.


Vão perceber o título mais tarde!

Sem comentários:

Enviar um comentário