terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Conversa de Toldos



Saía do Teatro Viriato. Chuviscava. Guilherme acelerou o passo, porque ainda tinha de jantar e já eram quase nove horas. Despediu-se dos últimos sobreviventes do PANOS'11 e correu para a Rua Direita. A passada larga não era indiferente às (poucas) pessoas que passavam, não porque cativasse, mas porque era a única passada larga que não a delas. Guilherme enrolou o cachecol para se proteger da chuva, não tinha frio. Mas, de repente, começa a chover. E chove muito. Muitíssimo, íssimo, íssimo... Então a passada larga passou a uma passada ainda mais larga, e depois a uma corrida. Mas era escusado. Não valia a pena fugir, era mais produtivo de se escondesse. Então, Guilherme, que é inteligente e bonito, resguarda-se debaixo do toldo de uma loja. Mas olhava para o relógio e via os minutos a passar e o tempo a apertar. Tinha de fazer avanços. (Neste momento a história, que ainda não chegou à parte cómica, é uma seca, porque também não estou a depositar muito nela, não é?)
Guilherme, ia então de toldo em toldo, fazendo investidas corajosas e decididas contra a chuva, e corridas extremamente engraçadas. Até que, (e esta é a parte engraçada) encontra um outro cavalheiro na mesma situação. O cavalheiro, que era visivelmente mais velho que Guilherme, apresentava-se de casaco meio fechado, tinha cabelo curto e castanho.
"Isto é que vai aqui uma chuvada, não é verdade?"
"Opá, é verdade. Aqui o São Pedro não está muito bem disposto!"
Pois é. Guilherme é uma pessoa muito simpática e por isso decidiu, já que iam ser companheiros de luta durante algum tempo, meter conversa com o indivíduo.
"Olhe, sabe, eu sou anti-chapéu."
"Eu também!"
"Tenho camisolas da quechua, e isso, mas não gosto..."
(Não entendo porque é que as pessoas gostam de falar do que têm em casa, quando não o têm ali!
"... ainda há uns tempos ofereci um casaco à minha filhota. Tem dez anitos."
(pois, é muito nova para mim...)
"Ah! Isso, isso é bom!"
"É."
"E dá jeito!"
"Pois dá. Mas eu tenho tantos impremiáveis, e não me lembrei de trazer um, já viu?"
"Pois é..."
"Da quechua tenho é uma tenda, assim com (epá, não me lembro das dimensões mas ele disse que era grande, e mostrou com as mãos)... Tem três quartos, um hall..."
"Epá, eu gosto muito de campismo!"
"Sim, sem dúvida, não há melhor."
"Às vezes dizem-se "vamos para um hotel", e eu fico (faz cara esquisita) para quê?"

E ficaram assim durante algum tempo, porque o Guilherme entretanto achou que estaria na hora de ir embora, e quando o homem ia começar a divagar sobre mais alguma coisa...
"Olhe, desculpe, mas vou aproveitar que está a chover menos e vou avançar para o próximo toldo!"
"Sim, sim, vá lá!"
"Gosto em conhecê-lo!"
"Igualmente."

E continuou correndo até casa.

5 comentários:

  1. Gostei, os meu parabéns é bom ler este texto para desanuvear um bocadinho!

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  2. Ahahah, super divertido :')

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  3. FENOMENAL!!! :D

    E assim Guilherme teve a conversa da sua vida! :P

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  4. sim, muito lindo e tal, mas não se escreve impremiáveis. impermeáveis, senhor guilhas, para isso é que servem os dicionários.
    atenciosamente,.

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