quinta-feira, 17 de junho de 2010

9º - Porque vão ver alguma coisa do género no palco em Outubro!



"(Embaraçado, falando às duas. Os seus gestos dirigem-se, sempre dubiamente, às duas. Vai-se dirigindo para uma e para a outra) O que é que vocês querem que eu diga? Ambas garantem que eu lhes prometi casamento. Mas será que nenhuma das duas sabe o que é, ou significa, uma promessa, sem que eu tenha que explicar? Por quê obrigar-me – sinto-me bem constrangido! – a repetir tudo que já te disse anteriormente? Se realmente me comprometi, tu não estás suficientemente segura para fazer pouco, ou até mesmo rir das pretensões da outra? Por quê preocupares-te à toa com a ilusão alheia? Admito mesmo, o que acho até bem ofensivo, que te preocupes com o futuro imediato – se vou, ou não vou, cumprir minha promessa. Discursos, explicações, palavras – isso não adianta. Se tu acreditas na minha promessa, nenhuma repromessa é necessária. Se já não crês, o que é que adianta eu milprometer? Não grito alto teu nome porque a outra poderá frustrar com a nossa felicidade. Quero que fiques em paz. No dia de nosso casamento poderás rir-te da pretensão da outra. Lamentar que ela tenha sido tão tola. Cumprir, não falar – o fim feliz confirmará minha promessa. (Baixo, para Marturina) Deixe-a acreditar que é ela; não vai atrapalhar. (Baixo, para Carlota) A coitada ilude-se. Vai ficar calma. (Baixo, para Marturina) Eu adoro-te. (Baixo, para Carlota) Eu sou todo teu. (Baixo, para Carlota) Nem posso olhar as outras, desde que te vi. (Baixo, para Marturina) A mais linda é feia, perto de ti. (Alto) Bem, tenho que tomar algumas providências. Mas dentro de quinze minutos estarei de volta. (Sai)."

Moliére, em "Dom João" - Adaptado

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