quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sushibaby

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Entrou pela porta, como se a casa fosse dela. A sua aparência era diferente da dos restantes. Era bonita, tinha os olhos carregados, grandes e expressivos.
A festa estava agora a começar. Os convidados, todos relativamente novos, chegavam quase simultâneamente. A música era portuguesa, e alguém grita.
"Não tens aí música boa?"
"Nã... Aqui só música muito boa!"
Os convidados riram, em geral, e o volume da música aumentou. Ela caminhava agora à descoberta. Foi até à mesa das bebidas, encheu um copo de coca-cola e sentou-se numa cadeira, relativamente isolada. Ia com ela uma amiga, que aparentava ser feliz. Animada. Tinha uma cara simpática, e divertida. Eram uma parelha divertida. Conversavam, com sorrisos esboçados na cara, e um copo de cola na mão. Os olhares passeavam pela sala, para ver quem estava. Até que entrou um rapaz.

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O rapaz era discreto. Tinha o cabelo escuro, e os olhos pouco abertos. Estava despenteado (estava sempre), e parecia não estar presente. Ele fitou-a, ela também. Desviaram o olhar e sorriram. Conheciam-se. Ele sentiu um impulso, queria falar-lhe mas tinha receio. Também uns amigos abordaram-no, e meteram conversa. Falavam de tudo, e de nada. Em bom rigor, estavam já ligeiramente bêbedos. E nisto tudo, a rapariga. Ele olhava-a, mas ela parecia ignorar, e ao mesmo tempo parecia estar a falar dele à amiga. Havia um misto de sensações no peito do rapaz, que deixara de ouvir os amigos, para ouvir os pensamentos. A certa altura, a rapariga olha-o e levanta-se. Ela vem na direcção dele. O coração acelera. Ela chega por fim. Conhecia mais um rapaz que o acompanhava, mas o "Olá" parecia ser direccionado para o apaixonado, que lhe respondeu com um mísero "Olá". Houve silêncio. Merda! Ela sorriu, e afastou-se. Merda, merda, merda, merda.



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Mais tarde, o rapaz estava sozinho, e ela sentou-se ao pé dele. Falaram durante um pouco. E a despedida, apesar de ser um "até já" porque não se iam realmente deixar de ver, custou.
Dias depois, na escola, e sempre, ela parecia esconder-se, ou fugir. E ele pergunta "Isso é bom, ou mau sinal?" porque a rapariga o fascina, e por isso não a quer assustar, e então surgem pensamentos do género: "Ela está a esconder-se para fugir de mim porque pensa que eu sou um tarado qualquer que a anda a seguir para todo o lado. Mas eu não quero isso. Por isso vou deixar de a ver, não? Não isso pode correr mal. Bem, então ficamos assim assim, não é?". O Campos disse, e com razão, "O sexo oposto existe para ser procurado, não para ser compreendido".



O rapaz é o Charlie Brown (no futuro, naturalmente). Mas podia muito bem ser eu.

6 comentários:

  1. estás apaixonado?

    hummm

    parece...

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  2. o Guilherme sabe o que é sentir. :) sabe.
    gostei muito, apaixonado.

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  3. descobrimos a música portuguesa, foi? ;)

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  4. Gostei muito, escrita detalhada e carregada de sentimento. Parabéns.

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  5. Sushibaby dos Oioai... há 4 anos que oiço essa música e não me consigo cansar dela :)

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