quarta-feira, 13 de junho de 2012

Santos Pensamentos Populares

Ontem, quando passei pelo Chiado durante a madrugada, ouvi um rapaz agarrado à estátua do Pessoa (estátua que faço questão de cumprimentar, mesmo que apenas com o olhar, sempre que por ali passo) a dizer uma coisa muito interessante, apesar de ele não ter pensado da mesma maneira como eu entendi. Ele disse "Vou fazê-lo sorrir!". Achei a coisa muito interessante, por um lado pela impossibilidade de mudar a expressão de uma estátua, por outro, por nunca ter visto o Pessoa a sorrir para além de uma pequena contracção, mesmo ligeira, numa ou noutra fotografia. Há ainda outra coisa interessante, e que vai de encontro ao que quero falar aqui. O rapaz, devido eventualmente ao seu estado de embriaguez, acho importante que todos sorrissem, até o Pessoa. Queria que todos partilhassem da sua alegria. Escusado será dizer que o Pessoa manteve a compostura, e já está há mais tempo sóbrio do que esteve bêbedo em vida. É interessante esta necessidade de nos preocuparmos com os outros. É amor, isto, é amor de um género qualquer, mas é amor, isso é inegável. E o que é que o amor implica?
No outro dia estava a falar com uma pessoa sobre este tipo de coisas e disse-lhe que não era a fazer do compromisso, não me consigo comprometer, e entendo que isto choque, ainda que me maneira efémera e ligeira, as pessoas que me ouvem dizer, mas, neste momento, não me consigo comprometer. E comprometer é, também, assumir uma paixão, ou qualquer coisa que isso seja. Comprometer não é só estar ao lado de alguém é manter-se fiel, e ser fiel não é reservado a relações entre indivíduos, mas, numa vertente mais metafísica, às ideias que temos, àquilo que dizemos, por isso não gosto de gostar de ninguém, e quando gosto, venho para aqui escrever. É a minha maneira de me comprometer, mas aqui comprometo-me com o teclado e uns poucos olhos interessados, ou não, em letras e frases e pensamentos e amor e pensamentos sobre o amor. Por isso é que este espaço ainda existe.
Isto seria mais fácil, e interessante, se fosse um diálogo. Monólogos deste género não são aconselháveis. Por isso gostava de falar contigo que estás a ler este post. Vamos fazer um debate de ideias. Contigo mesmo, leitor. Sim?
Eu lanço o moto: Gosto muito mais de paixões platónicas que do amor em si!

3 comentários:

  1. quando tudo em ti quiser o compromisso, não vai haver espaço para esse tipo de liberdades. vais acabar por ficar dentro e preso à outra pessoa que até te vais esquecendo de ti. é bom, é mau, é assim.

    ou pelo menos, é assim comigo.

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  2. tu és tão tu Guilherme, és tão cheio de medo. és tão receoso de perder mais que ganhar. tu és daqueles mal-amados que são do resto do mundo e que se entregam à arte. pertences a todos, ofereces a tua vida aos outros. emprestas-te porque vives quando estás no palco e as roupas de palco não se vestem nos intervalos. tens medo só isso.

    mas depois, também eu tenho medo.

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  3. também acho que as paixões platónicas são capazes de despertar em nós muito mais que o amor...no entanto, o amor ajuda-nos a construir coisas enquanto que a paixão um dia vai acabar e vamos sofrer com isso,esse é o mal..

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