terça-feira, 12 de julho de 2011

PTT



Escrevi isto há uns meses, mesmo antes de passar na televisão, sobre o Portugal tem Talento.

Quando estamos a ir para lá há um certo nervosismo, ansiedade, medo. Quando lá chegamos, não conhecemos ninguém, somos estrangeiros, e eles também. Mas começamos logo a falar com os outros. A pergunta mais frequente é "O que vais fazer?". Mas estamos felizes por estar ali, com aquelas pessoas que não conhecemos, ou preferimos nem conhecer por algum motivo. Ligam-se os holofotes, os homens que carregam uns instrumentos de captação de imagem relativamente grandes começam a aparecer, sempre acompanhados por uma equipa onde as tarefas são muitas. Pessoas que fazem a grande parte do trabalho e que não podem dar a cara, a que chamam produção. A certa altura começamos a gravar cenas na rua, entrevistas, gritos e aplausos. Depois do almoço, as audições começam. Um a um somos chamados por números. Um a um vimos os outros desaparecer. eventual e ocasionalmente ouvimos aplausos, a sala está cheia, ouvimos negas, ouvimos risos e sorrimos. Conhecemos talentos, e ganhamos amigos. O dia é longo e demora a passar. Vimos o dia nascer e, de certa maneira, morrer. Sofremos de uma apatia provocada por um dia expectante mas calmo, muito calmo... E ao fim de cerca de 14 horas de espera o nosso número é finalmente chamado. O nervoso desvaneceu, e transformou-se em cansaço. Descemos para uma sala de preparação, onde nos sentamos e esperamos para entrar no palco. A sala é pequena, com umas cadeiras pretas e uma luz muito branca. Há uma câmara que nos filma, e a conversa serve para descontrair. O rapaz que vai à nossa frente foi a primeira pessoa com quem falámos quando chegámos, e quando a senhora da produção o chama, ele levanta-se e é engolido por um grupo de 3 ou 4 pessoas vestidas de preto, que o levam para o palco. "Boa sorte!" é a última coisa que lhe dizemos. E eventualmente chega a nossa vez. Somos também nós engolidos pelos de negro, que nos levam para o palco. Aqui o ritmo acelera. Passam-nos de mãos em mãos até chegarmos às do director artístico do programa que nos fala um pouco, não me lembro o quê, mas algo para nos encorajar. Depois os técnicos de som que nos perguntam que microfone vamos usar. Do nada uma senhora passa-nos uma espécie de vassoura muito macia e aberta na cara, larga um pó. Ao mesmo tempo, e sem nos mexermos, os técnicos de som instalam o microfone. Conseguimos ouvir a apresentação do participante a decorrer do outro lado das cortinas opacas pintadas de preto. Num instante estamos prontos para entrar em cena, mas temos de esperar. Há um momento de calma, e ouvimos as negas do júri. O directos do programa fala mais um pouco connosco, nada de especial, só para aumentar a moral. Não podemos ver o outro concorrente mas sofremos com ele. E do nada ouvimos uma voz lá no fundo que diz "3,2,1", agarram-nos no braço e dizem muito rápido e baixinho "Vai ter com a Bárbara!", começamos a caminhar e vimos uma objectiva virada para nós, sobre ela uma luzinha vermelha. Falamos um pouco, declamamos um excerto de Florbela Espanca, e somos empurrados para o palco. Falamos com o júri, falamos bastante, apresentamos o nosso número, ouvimos o júri, passamos. Voltamos a ter com a Bárbara, e pronto. Valeu!

1 comentário:

  1. Há dias, estive para te pedir para escreveres um sobre isto. Cá está ele, é giro ver as coisas da tua perspectiva. Um abraço!

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